A teoria da predestinação, que tem como um de seus maiores teóricos João Calvino, em resumo, diz que dada a onisciência divina, Deus conheceria, de antemão, o destino de cada um, quem será e quem não será salvo. Tendo em face essa teoria, construíram-se tanto dentro quanto fora do cristianismo, críticas a uma suposta maldade de Deus que estaria implícita, uma vez que esse, tendo conhecimento de que muitos seriam condenados, e de quem esses seriam, ainda assim decidiu criar a raça humana, e assim, condená-los a princípio.
Continuando nas críticas a essa interpretação da onisciência divina, temos então a questão do livre arbítrio, que, de fato, não existiria, uma vez que haveria pela parte de Deus uma presciência dos acontecimentos, estão a escolha de cada um seria apenas ilusória, tendo o resultado sido de conhecido previamente por Deus.
Alguns teólogos tentaram responder a essas críticas. Eusébio de Cesaréia disse que “o conhecimento prévio dos eventos não é a causa de que tenham ocorrido. As coisas não ocorrem [somente] porque Deus sabe. Quando as coisas estão para ocorrer, Deus o sabe” e Santo Agostinho, disse que “assim como você, pelo exercício da memória, não obriga a ocorrência dos eventos passados, tampouco Deus, por sua presciência, obriga a ocorrência dos eventos futuros” . Outra explicação dada é de que Deus não estaria preso à dimensão temporal como nós humanos, e, assim, sua onisciência não seria, necessariamente, uma presciência, pois os conceitos de presente, passado e futuro não se aplicariam.
No Tempo de Deus e Não No Meu(vídeo)
I. A diferença entre a palavra khronos e Kairós (I Pe 1.18-21).
Na antiguidade os gregos dividiam o tempo em dois: Chronos e Kairós.
Chronos para eles era justamente esse tempo que nós contamos, uma hora, três minutos, vinte segundos... Daí porque chamamos de tempo cronometrado. Já o Kairós é um “tempo sem tempo”, um tempo um pouco desconhecido, pois é um tempo divino.
Nós, em nosso dia a dia, já vivemos bastante presos ao Chronos, chegando a certo ponto de sermos escravos dele. Tudo no meu dia tem um tempo determinado e se algo atrasar vai atrapalhar todo o resto. Sim, somos escravos do tempo cronológico! Porém, nós podemos fazer algo diferente. Nós podemos, mesmo dentro das horas e minutos, viver um Kairós, um tempo contado por Deus. Precisamos somente dar o espaço que Ele precisa para entrar no nosso dia. Podemos fazer da nossa vida um constante tempo da graça divina. Quando nós vivemos esse Kairós, aquilo que nos atormenta em nosso passado e em nosso futuro já não será mais uma grande preocupação, pois quando vivemos esse tempo da graça, aquilo que vivemos no presente se tornará como que uma luz a iluminar as experiências já vividas e aquelas que estão por vir.
Portanto, fica para nós o desafio: deixarmos de ser escravos do Chronos e vivermos um constante Kairós. Degustando e saboreando dos presentes que Deus nos dá no AQUI e AGORA. Sei que nossa juventude espera que as coisas aconteçam com velocidade máxima, porém, máxima deve ser a graça de Deus em nossa vida. Que o Senhor do tempo nos ensine a viver bem cada momento que a vida nos oferece.
1 . A origem do plano da salvação: O plano de salvação não foi elaborado por Deus no momento em que surgiu o pecado no mundo. A Bíblia diz que antes de criar o mundo Deus havia criado o plano da salvação.
A . O motivo do plano da salvação: A salvação resulta do amor de Deus e não do pecado humano. O plano de salvação revela o caráter amoroso de Deus, não um desespero ou uma emergência diante de uma tragédia imprevista.
B . A revelação do plano da salvação: O plano de salvação do pecador foi o remédio elaborado na eternidade, predito por Deus na história e efetivado no fim dos tempos, na vida, morte e ressurreição de Jesus.
2 . O REMÉDIO PARA O PECADO FOI PROVIDENCIADO ANTES MESMO QUE ELE ARRUINASSE A VIDA HUMANA – I Pedro 1:18-20
A . Antes de existir morte no mundo, o assunto da morte já havia sido tratado no Céu.
B . Antes dos pecadores sofrerem as consequências dos seus pecados Jesus já havia providenciado a solução para elas.
C . Antes da criação do ser humano, Deus já tinha cuidado de tudo, até mesmo se ele viesse a desobedecer.
3 . O REMÉDIO PARA O PECADOR FOI PROJETADO ANTES DO SER HUMANO CAIR EM PECADO – I Pe 1:19-20
A . Antes de Deus criar o mundo Ele elaborou o plano de salvação.
B . Antes da fundação do mundo Jesus já era conhecido como o Cordeiro sem defeito e sem mácula, que derramaria seu sangue pelo ser humano, caso caísse em pecado.
3. Antes da criação do mundo e do ser humano cair em pecado, o Messias já era conhecido no Céu como Aquele que assumiria a desgraça causada pela humanidade.
4 . O REMEDIO PARA O PECADO FOI PREVISTO NA ETERNIDADE, MAS DESVENDADO CERCA DE 4.000 ANOS DEPOIS –I Pe 1:20-21
A . Assim que Adão e Eva pecaram Deus matou um cordeiro para revesti-los de pele (Gênesis 3:21); isso apontava para o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1:29).
B . Assim que Adão e Eva pecaram tiveram uma conversa com Deus, o qual logo revelou o plano (Gênesis 3:15). Esse plano foi-se revelando no decorrer da história por meio de altares de sacrifícios, tabernáculo/santuário, templo... até chegar no alto do monte Calvário!
C . Embora Deus não tenha sido pego de surpresa quando Adão e Eva pecaram, a solução de Deus manifestou-se no fim dos tempos, cerca de 4.000 anos depois do pecado, mais ou menos 2.000 anos atrás.
- O plano da salvação existia bem antes da fundação do mundo: O plano de Jesus tornar-se Messias, Redentor foi projetado antes de ser estabelecido os fundamentos da terra, pois o propósito de salvar remonta a tempos anteriores à criação do mundo. Na cruz, o projeto originado na eternidade se tornou um fato histórico.
- O plano da salvação era conhecido antes da queda humana no pecado: A missão de salvar sempre foi o eterno propósito da Trindade, mesmo que ainda não tivesse ninguém para salvar. Desta forma, antes da existência do pecado no mundo, o plano para resolver o problema do pecado já existia, mas concretizou-se em Jesus na cruz e Sua ressurreição.
- O plano da salvação manifestou-se plenamente no fim dos tempos: A estratégia de redimir o pecador vem antes de criar o homem, mostrando assim que Deus já era Redentor quando atuava como Criador; portanto, o que foi decidido na eternidade manifestou-se num ponto de nossa história, no primeiro século da era cristã, no topo do Monte Calvário.
Cronos e Kairos O Tempo de Deus (vídeo)
II. A vontade soberana de Deus e o Livre Arbítrio do ser Humano
“Pois o Senhor, vosso Deus, é o Deus dos deuses e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e terrível, que não faz acepção de pessoas, nem aceita suborno” (Dt 10.17).
Deus é soberano, porém, apesar de sua soberania, concedeu livre-arbítrio aos homens. Embora estejamos cônscios da complexidade e das controversas que tem gerado na história da Teologia Cristã, buscaremos nesta oportunidade um esclarecimento bíblico sobre o assunto. O que realmente significa “soberania de Deus”? “Qual o grau de liberdade humana?” “Como conciliar soberania divina com liberdade humana? Ou como casar a responsabilidade humana e a graça de Deus no processo da salvação?” São estas e outras questões correlatas que procuraremos esclarecer aqui.
1. A ONIPOTÊNCIA DE DEUS
A onipotência é um dos atributos naturais de Deus e significa que Ele é poderoso para executar tudo o que a sua soberana vontade conceber. O vocábulo onipotência deriva-se de dois termos latinos: omni, tudo, e potens, poderoso, e significa, portanto, “todo-poderoso”. Realmente, segundo a Bíblia, não há limites quanto ao poder de Deus em fazer o que Ele decide fazer. Sua onipotência encontra-se explicitamente mencionada nas Escrituras: na retórica pergunta que o anjo fez a Abraão: “Existe alguma coisa impossível para o Senhor?” (Gn 18.14); na declaração de Jeremias: “Nada é difícil demais para ti” (Jr 32.17); do anjo Gabriel a Maria: “Porque para Deus nada é impossível” (Lc 1.37); de Jesus aos seus discípulos: “Mas a Deus tudo é possível” (Mt 19.26); na oração de Paulo pelos efésios: “Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera” (Ef 3.20); por fim, naquilo que o próprio Deus disse de si mesmo: “Ainda antes que houvesse dia, eu sou, e ninguém há que possa fazer escapar das minhas mãos; operando eu, quem impedirá?” (Is 43.13; cf Gn 17.1; Is 14.27; Ap 1.8). A onipotência de Deus está também patente na maneira como Ele criou, preserva e governa o universo. Segundo Hb 1.3, Ele é o Criador e sustentador do universo. Paulo diz que “nele tudo subsiste” (Cl 117); e ainda: “Pois nele vivemos, nos movemos e existimos” (At 17.28). Os levitas já diziam: “Só tu és Senhor, tu fizeste o céu, o céu dos céus, e todo o seu exército, a terra e tudo quanto nela há, os mares e tudo quanto há neles, e tu os preservas a todos com vida, e o exército dos céus te adora” (Ne 9.6).
2. A VONTADE DE DEUS
A vontade de Deus é a razão última e final pela qual todas as coisas acontecem. Nada neste vasto universo pode fugir do controle de sua soberana vontade. Segundo definição de Wayne Grudem, a vontade de Deus é o atributo pelo qual Ele aprova e determina dar origem a cada ação necessária para a existência e atividade de Si próprio e de toda a criação. As Escrituras afirmam a supremacia da vontade de Deus em muitas passagens. Para começar, todas as coisas foram criadas pela vontade de Deus: “... criaste todas as coisas, e por tua vontade elas existem e foram criadas” (Ap 4.11). Paulo diz que Deus “faz todas as coisas segundo o propósito de sua vontade” (Ef 1.11). Daniel diz que os governos humanos acontecem conforme a vontade de Deus (Dn 4.32). Os eventos relacionados à morte de Cristo aconteceram segundo a vontade de Deus (At 4.27,28). Tiago nos aconselha a que vejamos todos os eventos da vida humana relacionados à vontade de Deus (Tg 4.13-15).
3. CONCILIANDO ONIPOTÊNCIA E VONTADE
A onipotência de Deus deve ser compreendida dentro da expressão de sua vontade, isso porque, apesar de Ele possuir poder infinito, não pode agir em dissonância com o seu caráter santo. Por isso que tivemos cuidado de definir a onipotência de Deus como a sua capacidade de fazer toda a sua vontade. O caráter santo de Deus delimita suas ações, impossibilitando-o de fazer algumas coisas. Por exemplo: Ele não pode mentir (Tt 1.2) nem pode negar-se a si mesmo (2 Tm 2.13). Embora o seu poder seja infinito, o uso que Ele faz desse poder é qualificado por seus outros atributos, e quando um atributo é isolado da totalidade do caráter divino, ou quando é enfatizado de forma desproporcional, podem surgir muitas compreensões errôneas.
4. A VONTADE DE DEUS E O LIVRE ARBÍTRIO HUMANO
Quando se afirma que tudo o que existe e acontece obedece à determinação da vontade de Deus, parece que se estar confrontando um outro ensino exarado nas Escrituras: o livre-arbítrio humano, pois se tudo acontece segundo a vontade divina, onde estaria a liberdade humana? Parecem duas premissas excludentes: Deus é soberano, logo o homem não é livre. Todavia, um exame cuidadoso das Escrituras pode nos ajudar a conciliar duas posições aparentemente irreconciliáveis.
Quando Deus criou o homem, Ele o fez segundo a sua imagem e semelhança (Gn 1.27), deu-lhe capacidade para discernir entre o bem e o mal (Gn 2.16), e lhe outorgou o direito de escolha (ver Dt 30.15). Não é contraditório dizer que Deus, soberanamente, delegou livre arbítrio a algumas de suas criaturas. Ele não tinha necessidade de assim fazer, mas o fez soberanamente. Por isso, apesar de ter poder para impedir as ações de quem quer que seja, Deus escolheu não interferir nas escolhas humanas (Gn 2.15-17; 3; 4.7; Dt 30.15). É neste aspecto que fomos feitos à imagem e semelhança do Criador: somos criaturas racionais, com a capacidade de fazer nossas próprias escolhas morais, até mesmo aquelas que contradizem a vontade divina. A esta atitude bondosa e respeitosa do Criador em relação às escolhas de suas criaturas chamamos de vontade permissiva de Deus. É dessa forma, portanto, que a Bíblia casa perfeitamente soberania de Deus e livre-arbítrio-humano.
Uma questão interessante que não podia se omitir aqui é sobre a aplicação da salvação. Paulo diz na carta aos Romanos que Deus nos predestinou a salvação por meio de Cristo (Ver 8.29,30). Alguns objetam que, se Deus predestinou alguns para a salvação, logo estes não são livres para escolherem que posição tomar em relação à oferta graciosa de Deus. Dizem que, neste caso, o livre-arbítrio humano e a soberania de Deus se excluem mutuamente, pois se é por predestinação, não há liberdade de escolha. Esse raciocínio não se sustenta quando analisamos o assunto sob o argumento da onisciência divina. O Eterno sabe de antemão o que cada pessoa fará com a sua liberdade e, se deliberadamente, aceitará ou não a graça salvífica, porém não interfere, apesar de que seu desejo é que todos os homens se salvem ao cheguem ao pleno conhecimento da verdade (ver 1 Tm 2.11).
5 . VONTADE DIRETIVA E PREDESTINAÇÃO
Neste aspecto, a vontade de Deus não transige com o arbítrio humano. Sua soberania garante que todo o seu propósito será minuciosamente executado. Jó disse: “Bem sei eu que tudo podes e nenhum dos teus pensamentos pode ser impedido” (Jó 42.2). Isaías afirma: “Porque o Senhor dos Exércitos o determinou; quem pois o invalidará? e a sua mão estendida está; quem pois a fará voltar atrás?” (Is 14.27). É Ele quem governa o universo e determina o que vai acontecer. Vale transcrever aqui um comentário de Wayne Grudem sobre a vontade diretiva de Deus:
Também consideraremos a liberdade de Deus como parte da vontade de Deus, mas ela passa a ser atributo separado. A liberdade de Deus é o atributo pelo qual Deus faz qualquer coisa que lhe agrade. Essa definição sugere que nada em toda a criação pode impedir Deus de fazer a sua vontade. Deus não é forçado por nada externo a Si próprio, e ele é livre para fazer qualquer coisa que deseje fazer. Nenhuma pessoa ou força pode jamais ditar a Deus o que ele deve fazer. Ele não está debaixo de autoridade alguma nem sob compulsão externa (GRUDEM, Wayne A. Manual de teologia sistemática. São Paulo:Vida, 2001, p 103).
É dentro deste contexto que surge a doutrina da predestinação, que permeia toda a Bíblia Sagrada, principalmente o Novo Testamento. O Senhor, em sua soberania, escolheu e predestinou um povo para ser conforme a imagem de seu Filho (Rm 8.29,30). Na carta aos Efésios, Paulo afirma: “Porque Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença” e “ em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos por meio de Jesus Cristo conforme o bom propósito de sua vontade, para o louvor de sua gloriosa graça” (Ef 1.4-6). Todavia, a predestinação só pode ser corretamente compreendida à luz de outra doutrina bíblica: eleição. Eleição é a iniciativa divina de, antes da criação, ter escolhido um povo para Si, não com base em qualquer mérito do povo, mas pelo propósito soberano de Deus. Quando Paulo afirma que Deus escolheu para si um povo, ele está enfatizando que a salvação é obra exclusiva de Deus. Note que em Efésios 1.4, Paulo diz que nós fomos escolhidos nele [em Cristo]. Isso deixa claro que a eleição de Deus ocorre apenas para aqueles que estão unidos a Cristo mediante a aceitação de seu sacrifício vicário por meio da fé. Uma vez que Cristo foi eleito desde a eternidade (Mt 12.18; Is 42.1,6), todos os que se chegam a Ele são com Ele aceitos e predestinados à salvação, conforme a teologia paulina em Romanos 8.29,30. A processo eleição- predestinação não se trata de algo aplicado individualmente, mas coletivamente. Considere que Deus escolheu um povo para si (1 Pe 2.9,10); este povo é a sua igreja que está predestinada à salvação (Mt 26.18). Logo, como no comentário da Bíblia de Estudo Pentecostal, a eleição de Deus é coletiva e abrange o ser humano como indivíduo somente a medida em que este se identifica e se une ao corpo de Cristo, a igreja verdadeira.
6 . PREDESTINAÇÃO E LIVRE ARBÍTRIO
Predestinar significa destinar de antemão, escolher [os justos] desde toda a eternidade, reservar (dicionário o Globo). A Bíblia freqüentemente usa o verbo grego proorizo, “demarcar de antemão”, determinar antes”, “preordenar”, para traduzir a idéia segundo a qual Deus predestinou um povo para si desde tempos eternos, não com base em qualquer mérito previsto nas pessoas, mas somente por causa de seu beneplácito soberano. Esses versículos têm suscitado muitas controvérsias e mal-entendidos entre os estudiosos das sagradas letras.
Em Rm 8.28-30, lemos: “Sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto. Porque os que dantes conheceu, também os predestinou [proorizo] para serem conformes a imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o Primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a estes também chamou, e aos que chamou, a estes também glorificou”. Na carta Aos Efésios, Paulo diz que Deus nos escolheu em Cristo antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença, e que em amor, Deus nos predestinou (proorizo) para filhos de adoção por Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade (ver vv 4-6). Na seqüência, no versículo 11, Paulo reforça dizendo: “Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados [proorizo], conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho de sua vontade”. No livro do Apocalipse, João fala de pessoas cujos nomes foram escritos no livro da vida desde a fundação do mundo, como também de outras que não tiveram o mesmo privilégio (ver Ap 13.7,8; 17.8).
Para um estudo mais abrangente do assunto, é possível achar muitos outros versículos da mesma natureza, todavia, como nos limitamos à predestinação para a salvação, resta-nos salientar que quando os escritores neotestamentários falam sobre a razão de Deus nos ter salvado e reservado para si, nega totalmente que foi por causa de algum mérito nosso e enfatiza que foi única e exclusivamente pelo propósito soberano de Deus e de sua incomensurável graça que Ele nos concedeu em Cristo Jesus desde os tempos eternos (1 Tm 1.9). Isso é a doutrina da predestinação.
Bom, já vimos que a doutrina da predestinação é fato. Agora vamos para a segunda questão: os seres humanos têm ou não o livre arbítrio? Somos realmente livres? Bom, encontramos em Dt 30.19 o Senhor propondo dois caminhos diante dos filhos de Israel e lhes falando para escolher entre ambos. Nos escritos do Novo Testamento, vemos que Deus deseja que todos os homens se salvem. (1 Tm 2.4). E Pedro diz que “ele [Deus] é paciente com os homens, não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento” (2 Pe 3.9). É dentro dessa perspectiva que o evangelho é ofertado a todos. Jesus mesmo lança o convite: “Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei” (Mt 11.28). Da mesma forma, vemos um convite no final do livro de Apocalipse: “O Espírito e a noiva dizem: Vem. Quem tiver sede venha; e quem quiser beba de graça da água da vida” (22.17). Vemos então que há um convite constante para que os homens se arrependam (Lc 13.3; At 2.38) e creiam (Jo 3.36; At 16.31). Estes convites só podem ser feitos a pessoas que são capazes de ouvir e respondê-los por uma decisão de suas próprias vontades. Isso significa que fazemos escolhas deliberadas por cujas conseqüências nos responsabilizamos. Em relação a aceitar ou não o convite do evangelho, Jesus diz: “Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado” (Mc 16.16). As Escrituras falam de nossa decisão de crer ou não como o fator que decidirá o nosso destino eterno. Este é o ensino do livre-arbítrio, segundo as Escrituras.
Sendo que a Bíblia enfatiza tanto a doutrina da predestinação como o ensino do livre-arbítrio, parece que estamos diante de um impasse (leia Rm 9.19). Como casar os dois ensinos que parecem mutuamente excludentes? É o que muitos teólogos têm tentado fazer do decorrer da história da Teologia, suscitando discussões e explicações das mais diversas ordens. A seguir mostraremos as interpretações mais conhecidas.
Existem duas teorias sobre a predestinação:
A calvinista e a arminiana.
A teoria calvinista vem de João Calvino;a teoria arminiana tem sua origem em Armínio, que foi discípulo de Calvino. Segundo os calvinistas, a salvação é algo que depende única e exclusivamente de Deus, e o homem não tem nenhuma participação. Dessa forma, Deus, em sua soberania, escolheu, desde a eternidade, salvar alguns, ao mesmo tempo em que resolveu não salvar outros. Os salvos estão incondicionalmente salvos, e os perdidos, incondicionalmente perdidos. Quando questionados sobre o fato de que, posto desta forma, a doutrina da predestinação exclui totalmente o livre arbítrio, respondem os calvinistas que o livre arbítrio é a capacidade de se fazer o que se quer, mas é Deus quem dá os desejos e afeições que controlam a ação. Esta explicação era apresentada por Jonathan Edwards. Argumentando assim, eles conseguem casar livre-arbítrio com predestinação.
Os arminianos divergem do calvinismo ao dizerem que a salvação é uma realização da livre graça de Deus, mas a pessoa tem a liberdade para rejeitar ou aceitar esta oferta graciosa. Com base no clássico texto de Romanos 8.29-31: Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que Ele seja o Primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a estes também chamou, e aos que chamou, a estes também glorificou”, os arminianos argumentam que Deus, na sua presciência, determinou, desde a eternidade, amar e redimir a raça humana através de Cristo. A predestinação supra referida diz respeito à igreja, passando a fazer parte as pessoas individualmente somente a partir do momento em que elas passam a fazer parte deste corpo coletivo mediante a fé permanente em Jesus. Os arminianos argumentam ainda que a predestinação (v 30) se aplica aos propostos de Deus referentes à eleição. Esta eleição, segundo o conceito arminianista, trata da escolha feita por Deus de um povo para si, porém é uma escolha feita “em Cristo”. O povo escolhido é a “Igreja Verdadeira”, incluindo aí todas as ocorrências que abrangem os indivíduos. Os comentaristas da Bíblia de Estudo Pentecostal apresentam uma interpretação parecida:
A PREDESTINAÇÃO (gr. Proorizo) significa “decidir de antemão” e se aplica aos princípios de Deus inclusos na eleição. A eleição é a escolha feita por Deus, “em Cristo”, de um povo para si mesmo (a igreja verdadeira). A predestinação abrange o que acontecerá ao povo de Deus (todos os crentes genuínos em Cristo).
(1) Deus predestina seus eleitos a serem: (a) chamados (Rm 8.30); (b) justificados (Rm 3.24); (c) glorificados (Rm 8.30); (d) conformados à imagem de seu Filho (Rm 8.29); (e) santos e inculpáveis (1.4); (f) adotados como filhos (1.5); (g) redimidos (1.7); (h) participantes de sua herança (1.13; Gl 3.14); (i) criados em Jesus Cristo para as boas obras (2.10).
(2) A predestinação, assim como a eleição, refere-se ao corpo seletivo de Cristo (i.e., a verdadeira igreja), e abrange indivíduo somente quando incluso neste corpo mediante a fé viva em Jesus Cristo (1.5,13; cf. At 2.38-41; 16.31). (Bíblia de Estudo Pentecostal, p 1808).
Procuramos dar mais ênfase à apresentação da segunda interpretação, deixando assim claro a nossa posição em favor da mesma. Isso não significa que o assunto está fechado e que haja respostas para todas as questões levantadas sobre este difícil assunto. Tanto calvinistas quantos arminianos se acham às vezes em dificuldade diante de algumas objeções levantadas, mas não é o caso de discutirmos aqui, até porque o nosso propósito é esclarecer, não confundir. Paulo, quando tratou do assunto na carta aos Romanos (cap 9), previu questões difíceis de serem respondidas, porém o apóstolo não procurou lançar ainda mais confusão na cabeça de seus leitores com respostas superficiais, antes atribuiu a Deus o direito de agir conforme o seu próprio critério sobre as suas criaturas: “Dir-me-ás então: Por que se queixa ele ainda? Porquanto quem resiste à sua vontade? Mas, ó homem, quem és tu que a Deus repicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma forma fazer um vaso para a honra e outro para a desonra?” (Rm 9.19,20). Vale salientar ainda neste tópico a recomendação do pastor Elinaldo Renovato para que evitemos os extremos neste assunto: nem uma predestinação fatalista - o que a Bíblia não ensina -, nem uma livre-escolha absoluta, como se a salvação dependesse de algum mérito humano. Por uma questão de segurança, atentemos para a explicação paulina: Deus é soberano e tem o direito de agir como bem lhe convier.
A obra redentora e a presciência de Deus. Já vimos que os salvos foram predestinados para a salvação mediante a obra redentora de Cristo desde tempos eternos (1 Tm 1.9; 2 Ts 2.3). Surgem novamente as objeções: se Deus escolheu alguns, Ele rejeitou outros? Como um Deus de amor e de Justiça agiria dessa forma? Uma forma coerente de responder a essa objeção seria entender que Deus pode predeterminar as ações humanas pelo menos de duas maneiras. Primeiro, Ele pode predeterminar com base nas livres escolhas já feitas, esperando para ver o que a pessoa vai fazer. Segundo, Ele pode predeterminar com base na sua onisciência, sabendo de antemão o que a pessoa fará de acordo com o seu pré-conhecimento (1 Pe 1.2). Estas posições são muito coerentes com o livre-arbítrio. Deus sabe antecipadamente como cada pessoa agirá no exercício de sua liberdade, então não seria paradoxal dizer que Deus pode determinar o futuro das pessoas pelo livre-arbítrio delas. Sendo assim, o futuro é determinado do ponto de vista do conhecimento infalível de Deus, mas livre do ponto de vista da escolha humana.
Destarte, Deus enviou seu filho para morrer por todos os homens (1 Tm 4.10) e o seu desejo é que todos se salvem (1 Tm 2.4), apesar de saber de antemão acerca daqueles que rejeitarão a oferta de salvação (cf Jd 4). Constitui-se, pois, uma decisão muito difícil para o Pai de amor, não interferir nas decisões de pessoas que Ele sabe que vão para a perdição. Note: Não é Deus que as envia. Elas escolhem. O Eterno não tem nenhum prazer nisso.
III. Eleição e Predestinação
Neste vídeo o Pastor Ciro define bem a predestinação
Pela onisciência Deus conhece (saber) todos os salvos e todos os perdidos em todos os tempos. Entretanto, há aqueles que Deus nunca conheceu (nunca foram um com Ele) e estes irão para o fogo eterno (Mt 7:23) e há aqueles que conhecem a Deus, ou antes, são conhecidos d’Ele, ou seja, são um com Ele e são salvos (Gl 4:9).
“Porquanto, aos que de antemão conheceu, também, os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou” (Romanos 8:29 -30)
1. Os fins da predestinação
É consenso entre os estudiosos pensar a predestinação tendo o homem como fim imediato, isso porque, na sua grande maioria, entendem que, através da predestinação, Deus concede salvação aos homens.
Apesar de inúmeros textos bíblicos rezarem que Deus salva o homem por meio do evangelho, que é poder de Deus para salvação de todo que crê (Rm 1:16), simplesmente, ignoram a verdade e se agarram a algumas teorias teológicas.
Sem embargo, os apóstolos afirmam, com todas as letras, que Deus, segundo a sua misericórdia, salva o homem pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo, ou seja, pela semente incorruptível, que é a palavra de Deus (Tt 3:5).
Mesmo diante de declarações contundentes, de que Cristo Jesus aboliu a morte e trouxe à luz a vida e a incorrupção, pelo evangelho, (2 Tm 1:10; Ef 1:13; 1 Co 1:21), muitos insistem em afirmar que a salvação se dá através da predestinação.
2. O fim imediato da predestinação está vinculado a Cristo
Na Antiga Aliança, os primogênitos tinham direito a vários privilégios, em relação aos demais irmãos, pois, a eles, pertencia a bênção, o principado, o sacerdócio, porção dobrada da herança, etc. Em virtude de ter nascido primeiro, em relação aos demais irmãos, o primogênito detinha a preeminência em tudo.
Semelhantemente, Cristo é o primeiro a ressurgir dentre os mortos e, por isso, foi declarado primogênito dentre os mortos (Cl 1:18; Ap 1:5). Ao ressurgir dentre os mortos, Cristo conduziu muitos filhos à glória de Deus (Hb 2:10), de modo que Aquele que foi introduzido no mundo, na condição de Unigênito, agora é primogênito entre muitos irmãos.
Mas, para Cristo ser primogênito entre muitos irmãos, cada irmão, necessariamente, deve ser semelhante a Ele, pois, só é irmão aquele que participa das mesmas coisas (Hb 2:14). Cristo, para chamar os homens de irmãos, teve de participar da carne e do sangue (Hb 2:11-14), semelhantemente, os homens, para chamarem o Cristo glorificado de irmão, necessitam ser participantes de Sua glória.
A solução dessa equação está na predestinação! Na eternidade, antes de haver mundo, Deus estabeleceu que todos os homens salvos por intermédio do evangelho estão predestinados a serem conforme a imagem de Cristo, com o único objetivo de Ele ser o primogênito entre muitos irmãos.
Ao ser gerado de novo, através da semente incorruptível, o novo homem em Cristo faz parte da geração eleita, ou seja, eleito antes da fundação do mundo, para ser santo e irrepreensível diante de Deus (Ef 1:3).
Isso significa que Deus não elegeu indivíduos para serem santos e irrepreensíveis, mas, elegeu a geração de Cristo. Se Deus tivesse elegido indivíduos a escolher, a escolha recairia sobre os descendentes da geração imunda e culpável, segundo a semente corruptível de Adão. Entretanto, Deus elegeu a descendência de Cristo, o último Adão, pois os homens gerados segundo Cristo, são criados em verdadeira justiça e santidade, ou seja, santos e irrepreensíveis.
Como a geração de Cristo é eleita, significa que todos os que são gerados de novo, pela verdade do evangelho, sem exceção, também são predestinados a serem semelhantes a Cristo (1 Jo 3:1-2). Através da predestinação, todos os salvos pela misericórdia de Deus, demonstrada por intermédio do evangelho, terão a mesma imagem do homem celestial: Cristo (1 Co 15:49).
O evangelho foi anunciado para a salvação e a predestinação estabelecida para a imagem. O evangelho é semente incorruptível que trás à existência novas criaturas e são eleitos por terem sido de novo gerados segundo o último Adão, o eleito de Deus.
A eleição e a predestinação estão em conexão com a aprovação régia que Deus propusera em Si mesmo na pessoa de Cristo de, na plenitude dos tempos, tornar a congregar em Cristo todas as coisas, tanto as do céu quanto as da terra (Ef 2:9-10).
Nos céus, Cristo foi elevado à posição de cabeça da Igreja (Ef 1:22), e na terra à posição de mais sublime (Sl 89:27). Ao eleger Abraão, Deus congregou as coisas da terra em Cristo, e no Descendente prometido a Abraão, Cristo, Deus congregou as coisas dos céus.
“E sujeitou todas as coisas a seus pés e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja” (Ef 1:22);
“Também o farei meu primogênito mais elevado do que os reis da terra” (Sl 89:27)
Segundo o conselho da Sua vontade, o propósito de Deus estabelecido em Cristo foi levado a efeito quando Ele se assentou à destra da Majestade nas Alturas, na posição de cabeça da Igreja, Primogênito entre muitos irmãos.
Agora, Cristo está aguardando que todos os seus inimigos sejam postos por escabelo dos seus pés (Sl 110:1), quando Ele se levantará para reger as nações da terra, assentado sobre o trono de Davi, seu pai, como o mais elevado do que os reis da terra.
Mas, como é ser semelhante a Cristo? Segundo o apóstolo João, ainda não é manifesto como haveremos de ser, mas uma coisa é certa: quando Cristo se manifestar seremos semelhantes a Ele! (1 Jo 3:2)
3. O fim mediato da predestinação em relação aos homens
Na eternidade, Deus decretou que a geração de Cristo, além de ser santa e irrepreensível, visto que nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, todos os gerados d’Ele serão conformes à imagem de seu Filho.
É impossível Deus escolher os descendentes da carne de Adão, pois todos, juntamente, se desviaram e se fizeram imundos. Mas, por intermédio de Cristo, o homem, segundo Adão, que ouve a mensagem do evangelho e crê, morre e é sepultado com Cristo e, em seguida, ressurge uma nova criatura, santa e inculpável, predestinada a ser conforme a imagem de Cristo.
Tanto a eleição quanto a predestinação, estão relacionados à nova criatura, ou seja, àquele que está em Cristo. Por conseguinte, aquele que está em Cristo conhece a Deus e é conhecido d’Ele. É ‘conhecido’ de Deus, por estar intimamente ligado a Ele, ou seja, se fez um só corpo com Ele.
O fim imediato da eleição e da predestinação é a preeminência de Cristo, sendo que, na eternidade, a geração de Cristo foi eleita e predestinada a ser conforme a imagem de Cristo, segundo a vontade de Deus. Tanto a eleição, quanto a predestinação, foram levadas a efeito, quando da vinda da existência ao mundo das novas criaturas, que são criadas segundo o mesmo poder de Deus, manifesto em Cristo.
As benesses da eleição e da predestinação são herdadas no nascimento do cristão, de modo que, ser santo e irrepreensível conforme a imagem de Cristo, não resulta de obras realizadas pelo crente, antes, tais benesses foram concedidas em Cristo, antes dos tempos dos séculos, segundo o próprio propósito de Deus: fazer Cristo preeminente em todas as coisas.
“Que nos salvou e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça, que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos dos séculos” (2 Tm 1:9).
Quanto à salvação, a eleição e a predestinação não têm um fim, e sim, a misericórdia e a graça de Deus, concedidas pelo evangelho.
A misericórdia de Deus é manifesta à humanidade na encarnação de Cristo, que concede salvação a todos que n’Ele creem. O evangelho que concede salvação aos que creem foi anunciado, primeiramente, a Abraão (Gl 3:8) e hoje o evangelho é anunciado como o mandamento de Deus.
“Mas a seu tempo manifestou a sua palavra pela pregação que me foi confiada, segundo o mandamento de Deus, nosso Salvador” (Tt 1:3);
“Mas que se manifestou agora e se notificou pelas Escrituras dos profetas, segundo o mandamento do Deus eterno, a todas as nações, para obediência da fé” (Rm 16:26).
O mandamento de Deus é dado a todas as nações, para que obedeçam ao evangelho, a fé que uma vez foi dada aos santos (Jd 1:3).
“Mas nem todos têm obedecido ao evangelho; pois Isaías diz: SENHOR, quem creu na nossa pregação?” (Rm 10:16);
“Porque já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que são desobedientes ao evangelho de Deus?” (1 Pd 4:17).
“Como labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo” (2 Ts 1:8).
O mandamento do evangelho é crer em Cristo (1 Jo 3:23), a obra que o homem precisa realizar para se tornar servo de Deus (Jo 6:29). Só ama a Deus quem cumpre o seu mandamento, de modo que quem crê em Cristo, verdadeiramente amou a Deus.
“Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, eu o amarei e me manifestarei a ele” (Jo 14:21);
“Pois o mesmo Pai vos ama, visto como vós me amastes e crestes que saí de Deus“ (Jo 16:27).
O evangelho é mandamento de Deus que demanda obediência. Quem obedece ao evangelho de Cristo não tem medo, pois o medo decorre da penalidade imposta ao desobediente (1 Jo 4:18).
Diante do evangelho de Cristo, o homem não pode ficar passivo. A ordem é: – “Entrai pela porta estreita” (Lc 13:24); “Operai a vossa salvação com temor e tremor” (Fl 2:12).
Com o homem efetua a própria salvação? O homem é salvador de si mesmo? É claro que não! Deus providenciou salvação poderosa a todos os homens na casa de Davi quando enviou Cristo ao mundo.
Quem obedece a Cristo ‘salvar-se-á’, pois o ‘temor’ diz do mandamento de Deus e o ‘tremor’ da obediência à sua palavra.
“Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, entrará, sairá e achará pastagens” (Jo 10:9).
O fim da fé, ou seja, o objetivo do evangelho é a salvação do homem:
“Alcançando o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas” (1 Pd 1:9).
O fim da predestinação é a primogenitura de Cristo, pois, por ela, os homens são constituídos conforme a imagem de Cristo, portanto, o fim da predestinação não é a salvação.
O termo grego τελος, transliterado telos e traduzido por ‘fim’, no contexto, tem o sentido de propósito, objetivo. O termo πιστις, transliterado pistis e traduzido por ‘fé’, no contexto significa ‘verdade’, ‘fidelidade’, ‘lealdade’, em substituição ao termo ‘evangelho’, que é a ‘fé’ anunciada em todo o mundo (Rm 1:8).
A ‘fé’ deve ser anunciada a todas as gentes e obedecida (Rm 1:5), pois ela é o dom de Deus, por meio da qual o homem é salvo.
“Porque, pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Ef 2:8);
“Pelo qual, recebemos a graça e o apostolado, para a obediência da fé entre todas as gentes pelo seu nome (…) Primeiramente, dou graças ao meu Deus por Jesus Cristo, acerca de vós todos, porque, em todo o mundo, é anunciada a vossa fé” (Rm 1:5 e 8).
É por meio do evangelho de Cristo que o homem é salvo, de modo que, aos não crentes não se prega eleição ou predestinação mas, sim, o evangelho, a palavra da redenção, que é poder de Deus para salvação.
“E nos impedem de pregar aos gentios as palavras da salvação, a fim de encherem sempre a medida de seus pecados; mas a ira de Deus caiu sobre eles até ao fim” (1 Ts 2:16).
“E os que estão junto do caminho, estes são os que ouvem; depois vem o diabo e tira-lhes do coração a palavra, para que não se salvem, crendo“ (Lc 8:12).
Deus não escolheu e nem predestinou indivíduos para a salvação, pois é contraditória a concepção de que Deus deseja que todos se salvem e, no entanto, escolhe e predestina somente alguns para a salvação. Salvar a humanidade é desejo de Deus por sua graça e misericórdia, tanto que deu o Seu Filho Unigênito, no entanto, para ser salvo o homem precisa se tornar um com a verdade, crendo.
“Que quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade” (1 Tm 2:4);
“Porquanto a vontade daquele que me enviou é esta: Que todo aquele que vê o Filho e crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6:40).
É imprescindível ao homem ‘conhecer’ a verdade, por dois motivos:
Primeiro, para ser salvo, e;
Em segundo lugar, para ser eleito e predestinado.
Pois só é predestinado a ‘serem conformes à imagem’ de Cristo, para que Ele seja o Primogênito entre muitos irmãos, aqueles que O conheceram, ou seja, que se fizeram um corpo com Cristo, a verdade que liberta (Jo 8:32). Mesmo Deus querendo salvar todos os homens, o meio de salvá-los não é através da Sua soberania, e sim, através da palavra da verdade!
Há um equívoco que perdura entre os teólogos, de que o termo grego προγινοσκω (proginosko), traduzido por ‘dantes conheceu’ significa ‘ter conhecimento de antemão’, ‘prever’, ‘predestinar’.
Entretanto, o termo, no contexto, foi utilizado como expressão idiomática judaica, indicando comunhão intima, quando o homem e a mulher se tornam uma só carne. São predestinados somente os que se tornaram um com o Pai e o Filho, ou seja, que ‘conhecem’ a Deus (Jo 17:21).
Somente os que se tornam uma só carne com Cristo, ou seja, os que amam a Deus, crendo que Jesus é o Cristo, também foram predestinados para serem conformes à imagem de seu Filho (Rm 8:29).
Deus é onisciente, ou seja, igualmente conhecedor de todas as coisas, quer seja do passado, quer do presente ou, do futuro. Ao dizermos que Deus é presciente, estabelecemos uma subdivisão da onisciência, que tolhe a compreensão acerca desse atributo de Deus. Deus anuncia de antemão, por intermédio dos seus profetas, eventos futuros, o que se dá pela sua onisciência e não pela sua presciência.
Pela onisciência Deus conhece (saber) todos os salvos e todos os perdidos em todos os tempos. Entretanto, há aqueles que Deus nunca conheceu (nunca foram um com Ele) e estes irão para o fogo eterno (Mt 7:23) e há aqueles que conhecem a Deus, ou antes, são conhecidos d’Ele, ou seja, são um com Ele e são salvos (Gl 4:9).
A má leitura de alguns versos impera, quando homens torcem a verdade exposta pelos apóstolos, com o objetivo de exporem uma doutrina contrária ao evangelho.
Por exemplo, leem 1 Pedro 1, verso 2 (“Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas.”), como se Deus elegeu alguns segundo a sua ‘presciência’. No entanto, o apóstolo Pedro estava enfatizando que os cristãos são eleitos segundo o anunciado de antemão pelos profetas (presciência), conforme expresso nos versos 10 a 12 do mesmo capítulo (1Pe 1:10 -12).
Os cristãos são designados ‘eleitos’, segundo o anunciado de antemão pelos profetas, santificados pela palavra de Cristo, vez que as palavras de Cristo são espírito e vida, sendo necessária aos cristãos a obediência, para serem purificados:
“… eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo” (1 Pe 1:2).
Ao escrever aos Tessalonicensses, o apóstolo Paulo expressa a mesma verdade:
“… porque Deus vos escolheu[1], desde o princípio, para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade” (2 Ts 2:13).
O verso não trata de uma ‘escolha’ para ser salvo, antes pela santificação do evangelho (vez que o crente é ministro do espírito) e pela crença (fé) na verdade, os cristãos foram tomados como propriedade (herança) de Deus, desde o princípio, para a salvação (Ef 1:11 e 14), pois a salvação é o fim da fé (verdade).
O objetivo fim da predestinação é a preeminência de Cristo, mas, só os que se fizeram um corpo com Cristo (conheceram), são predestinados (Rm 8:29). Porém, os predestinados também foram eleitos, ou seja, foram feitos santos e irrepreensíveis (Ef 1:3).
Contudo, para ser predestinado e eleito, primeiro Deus declara justo o novo homem que ressurge com Cristo, porque, para ser justificado, é necessário ao homem morrer com Cristo, quando por intermédio do evangelho, o homem torna-se participante da carne e do sangue de Cristo (Rm 4:25; Rm 6:7; Jo 6:55).
Mas, para o crente ser justificado, eleito e predestinado, primeiro teve que ser glorificado, tornando-se um só corpo com Cristo, ou seja, conhecendo a Cristo. O crente é glorificado quando ressurge dentre os mortos com Cristo, pois, sofreu com Cristo, para ser participante da glória da sua ressurreição (Rm 8:17; Cl 2:12; Cl 3:1).
Os que estão em Cristo são templos de Deus, ou seja, conhecidos de Deus, membros do Seu corpo, concomitantemente, também, estão destinados a serem conforme a imagem de Cristo, quando se revelarem os filhos de Deus (Rm 8:19).
Mas, para fazerem parte do propósito eterno que Deus estabeleceu em Cristo, de fazê-Lo preeminente em todas as coisas, através do poder que há no evangelho, para salvação do que crê, Deus glorificou os que creram, ressuscitando-os com Cristo e os declarou justos, livres de condenação!
IV. O fundamento da doutrina da predestinação.
“E, assim como trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial” (1 Co 15:49)
Ao abrir a madre todos os homens estão predestinados a serem conforme a expressa imagem de seus pais, daí a base da premissa do apóstolo Paulo: ‘… trouxemos a imagem do terreno…’ (1 Co 15:49).
Antes de todos os homens nascerem, já estava determinado qual imagem teriam: a imagem dos seus pais! Ninguém escapa ao que está preordenado, acerca da imagem que os pais transmitem aos seus filhos.
Semelhantemente, assim como todos estão predestinados a herdarem a expressa imagem dos seus pais, em Cristo, também estão predestinados a serem conforme a expressa imagem de Cristo.
Sobre esta verdade, declara o apóstolo Paulo, que Deus predestinou ‘para serem conforme a imagem de seu Filho’, todos os que creem em Cristo, através da mensagem do evangelho (Rm 8:29), de modo que todos os que são de novo nascidos, passam a ter a imagem do homem celestial, que é Cristo.
A afirmação de que todos quantos abrem a madre estão predestinados a serem conforme a imagem dos seus pais, remete a Adão, o primeiro homem. Quando Deus criou Adão, ele foi feito alma vivente e, por serem descendentes dele, todos os homens foram feitos almas viventes, de posse da imagem que Adão foi criado.
De Jesus Cristo, o Senhor, é dito que Ele é o último Adão, espírito vivificante e homem celestial. Por intermédio do evangelho, a semente incorruptível, todos os que são de novo gerados, são celestiais e conforme a imagem de Cristo.
A essência da predestinação bíblica vem expressa nestes versos:
“Assim está também escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão em espírito vivificante. Mas não é primeiro o espiritual, senão o natural; depois o espiritual. O primeiro homem, da terra, é terreno; o segundo homem, o SENHOR, é do céu. Qual o terreno, tais são também os terrestres; e, qual o celestial, tais, também, os celestiais. E, assim como trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial” (1 Co 15:45-49).
Da mesma forma que é impossível os filhos não compartilharem da mesma imagem dos pais, essa impossibilidade se estende aos homens ‘celestiais’. Por causa desta impossibilidade, de ‘terrenos’ e ‘celestiais’ não se desvincularem da imagem que herdam ao nascer, é dito que estão ‘predestinados’.
O verbo grego traduzido por ‘predestinar’ é προορίζω (proorizó), que significa predeterminar, decidir de antemão e foi utilizado nas seguintes passagens bíblicas: Atos 4:28, 1 Corintios 2:7, Romanos 8:29 e Efésios 1:5 e 11.
Ao criar o homem, Deus estabeleceu que os descendentes de Adão seriam conforme a imagem de Adão. Neste quesito, diz-se que Deus ‘προορίζω’, ou seja, deixou estabelecido, preordenou, traçou limites, antes de os descendentes de Adão virem à existência, qual imagem teriam: a imagem do homem terreno.
Por que Deus estabeleceu, de antemão, que a imagem dos celestiais seria conforme a imagem de Cristo, o homem celestial?
O motivo pelo qual os celestiais são conforme a imagem dos celestiais é claro e especifico: para que Jesus Cristo seja o primogênito de Deus entre muitos irmãos!
“Porque os que dantes conheceu, também, os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8:29).
Jesus foi introduzido no mundo na condição de unigênito de Deus, mas, ao ressurgir dentre os mortos, tornou-se o primogênito de Deus. Por quê? Porque, com Cristo, ressurge uma nova criatura todo aquele que crê na verdade do evangelho. Ao crer em Cristo, o homem morre, é sepultado e ressurge uma nova criatura, criada segundo Deus, em verdadeira justiça e santidade, conforme a imagem de Cristo, para que Ele seja primogênito entre muitos irmãos.
Por intermédio de Cristo, o homem alcança a imagem e semelhança de Deus (Gn 1:26), pois, Cristo é a expressa imagem do Deus invisível, o primogênito de toda Criação e os que creem são feitos à sua expressa imagem e semelhança: “O qual é a imagem do Deus invisível, o primogênitos de toda a criação” (Cl 1:15).
“Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que haveremos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é, o veremos” (1 Jo 3:2).
A predestinação dos que creem, para serem semelhantes a Cristo, visa satisfazer o propósito eterno que Deus estabeleceu em Cristo: a preeminência de Cristo em tudo.
O mistério da vontade Deus, diz do beneplácito proposto em Si mesmo, que é tornar a reunir em Cristo todas as coisas!
“E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência” (Cl 1:18);
“Descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em si mesmo, de tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus, como as que estão na terra” (Ef 1:9-10).
A predestinação bíblica é funcional, pois visa o propósito eterno de Deus estabelecido em Cristo: exaltá-lo soberanamente!
“Por isso, também, Deus o exaltou soberanamente e lhe deu um nome que é sobre todo o nome” (Fl 2:9).
Na cultura greco-romana encontramos a concepção fatalista e na cultura grega antiga, temos os mitos, como as Moiras e o estoicismo entre os gregos e romanos.
Essa concepção fatalista acabou por influenciar pensadores cristãos, de modo a pensar que todos os eventos são arquitetados por Deus, ao que nomeiam predestinação, diferenciando do fatalismo, pelo fato de não recorrer a nenhuma ordem natural.
Vale destacar que as correntes filosóficas como o ‘fatalismo’ e a ‘predestinação’ diferem do determinismo, ‘teoria filosófica de que todo acontecimento (inclusive o mental) é explicado pela determinação, ou seja, por relações de causalidade’ Wikipédia.
Enquanto a Bíblia apresenta a predestinação, relacionada com o propósito eterno que Deus estabeleceu na pessoa de Cristo, alguns teólogos, como Agostinho de Hipona e João Calvino, influenciados pelo pensamento greco-romano, entenderam que a predestinação é doutrina que trata da salvação de alguns e da condenação eterna de outros.
Em nenhuma passagem bíblica, encontramos expresso que Deus predestinou alguém à salvação, antes encontramos que Deus predestinou aqueles que foram de novo gerados pela palavra da verdade, para serem conforme a imagem de Cristo (Rm 8:29). O novo homem, por ser gerado de Deus, alcança a mesma imagem de Cristo, além de ser herdeiro com Ele de todas as coisas.
Quando escreveu aos cristãos de Éfeso, o apóstolo Paulo enfatiza que Deus havia predestinado os cristãos a serem filhos por adoção, o que indica qual é a condição e natureza dos cristãos (Ef 1:5). O objetivo da predestinação, na qual os cristãos são feitos herança, visa o louvor da glória de Deus (Ef 1:11-12), não a salvação.
Uma má leitura do versículo 5, do capítulo 1, da carta de Paulo aos Efésios, dá conta que Deus predestinou os não crentes a serem salvos, porém, o apóstolo diz que Deus predestinou por adoção os santos e fiéis em Cristo, que estavam na cidade de Éfeso, a serem filhos (Ef 1:1).
Quando disse: ‘E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo…’, o apóstolo Paulo utilizou o pronome na primeira pessoa do plural: ‘nos’ (ἡμᾶς), indicando que tanto ele quanto os cristãos estavam predestinados, uma das bênçãos espirituais com que foram abençoados.
“E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor e glória da sua graça” (Ef 1:5-6)
É em Cristo que os cristãos são santos e fiéis. É em Cristo que os crentes foram abençoados, com todas as bênçãos espirituais. É em Cristo que os cristãos são eleitos e predestinados! Mas, como os cristãos passaram a estar em Cristo? Quando creram, ao ouvirem “a palavra da verdade, o evangelho da ‘vossa’ salvação” (Ef 1:13).
Os calvinistas e arminianistas erram o público alvo da predestinação, ao entenderem que esta se refere a não crentes em Cristo, sendo que o apóstolo Paulo aponta para a condição dos que creram em Cristo, em decorrência de uma das bênçãos concedidas: a predestinação.
Esperar de antemão (προελπιζω) em Cristo é o mesmo que ser conhecido (προέγνω) de Deus. O único modo de alcançar a salvação em Cristo é crendo no evangelho. Os que esperam em Cristo é porque creram no evangelho. Os que são conhecidos de Deus são aqueles que cumprem o seu mandamento, que é crer em Cristo (1 Co 8:3; 1 Jo 2:3).
Veja :
“Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido dele” (1 Co 8:3);
“E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8:28).
O que concede salvação ao homem é crer no evangelho, que é poder de Deus para salvação (Rm 1:16) e não a predestinação, que concede a imagem de Cristo aos que são salvos pelo evangelho.
“Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu e também do grego” (Rm 1:16);
“Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa” (Ef 1:13).
A fórmula para a salvação em Cristo, está expressa nos seguintes termos:
“Mas que diz? A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé, que pregamos, a saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto que, com o coração se crê para a justiça e com a boca se faz confissão para a salvação. Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido” (Rm 10:8-11).
A Bíblia deixa claro que quem invocar a Cristo será salvo! A salvação em Cristo não segue o viés fatalista que é próprio ao pensamento greco-romano! Ninguém abre a madre predestinado à salvação, antes, ao nascer, entra por uma porta larga, que dá acesso a um caminho largo, cujo destino é a perdição.
O caminho que os homens trilham, quando vem ao mundo, está atrelado à perdição, pois entraram por uma porta larga quando nasceram: Adão. Já o caminho que os gerados de novo trilham está atrelado à salvação, por isso a necessidade de entrar por Cristo, a porta estreita.
Deus nunca vinculou a perdição ou a salvação como destino dos homens, antes vinculou a salvação e o destino ao caminho no qual estão, por isso ninguém está predestinado à salvação ou à perdição.
Todos os homens, quando vêm ao mundo, estão predestinados a serem conforme a imagem de Adão e essa verdade não podem mudar. Entretanto, todos os homens que entrarem no mundo estão em um caminho de perdição e essa condição só pode ser alterada, desde que os homens nasçam novamente.
Nenhum homem escolhe entrar pela porta larga, visto que todos os homens, ao virem ao mundo, entram por ela. A todos que entraram no mundo por Adão e que estão seguindo para a perdição, através do evangelho é ofertada a oportunidade de serem gerados de novo, entrando por Cristo, a porta estreita e o último Adão.
Ao nascer de novo, o homem se livra da condenação, que é próprio ao caminho largo, e atrelado à salvação em Cristo, torna-se participante da natureza divina, predestinado a ser conforme a expressa imagem de Cristo.
Embora ainda não seja manifesto o que haveremos de ser, contudo sabemos que seremos semelhantes a Cristo (1 Jo 3:2), pois o motivo da predestinação bíblica repousa no fato de que Cristo é o primogênito entre muitos irmãos semelhantes a Ele:
“O primeiro homem, da terra, é terreno; o segundo homem, o SENHOR, é do céu. Qual o terreno, tais são também os terrestres; e, qual o celestial, tais também os celestiais. E, assim como trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial” (1 Co 15:45-49).
V. Predestinação versus Livre-Arbítrio.
Vincular indivíduos a destinos, antes mesmo de nascerem, é pensamento contrário às Escrituras, pois a Bíblia evidencia que os destinos estão vinculados aos caminhos. Se alguém nascido da carne e do sangue (Adão) não tomar a decisão de acatar o convite de Deus, será conduzido pelo caminho largo à perdição, mas qualquer que nascer do espírito (último Adão), acatando o convite de Deus, estará no caminho estreito (Cristo), que conduz o homem a Deus.
“Qual o terreno, tais são também os terrestres; e, qual o celestial, tais também os celestiais” (1 Co 15:48 ).
É tão espantosa a quantidade de textos sobre predestinação e livre-arbítrio,[1] que o argumento inicial se restringe em afirmar que o tema é de difícil explicação ou é um problema insolúvel.
Invariavelmente, os artigos sobre predestinação e livre-arbítrio, quando começam com as razões acima, somente conduzirão o leitor a rever posições doutrinárias de alguns teólogos do período da reforma protestante e, ao final, não apresentará uma resposta segura ao tema, além de introduzir muitas dúvidas.
É recorrente afirmar que o assunto tem sido objeto de inúmeras discussões ao longo da história do cristianismo, porém, o que se vê não é discussão, mas a imposição de ideias que se sagraram sob o rótulo de ‘escriturísticas’, ou seja, não podem ser questionadas.
No entanto, vale destacar que, se determinado assunto das Escrituras possui duas correntes doutrinárias, certamente uma delas é anti-bíblica ou, ambas são anti-bíblicas, pois o modelo das sãs palavras do evangelho não comportam duas vertentes sobre o mesmo tema: “Conserva o modelo das sãs palavras que de mim tens ouvido, na fé e no amor, que há em Cristo Jesus” (2Tm 1:13) .
Considerar que a Bíblia comporta duas doutrinas contraditórias e que ambas possuem fundamento bíblico é tendência de cunho humanista[2], portanto, contraria as Escrituras, pois o próprio Senhor Jesus não teve tal autonomia: “E sei que o seu mandamento é a vida eterna. Portanto, o que eu falo, falo-o como o Pai me tem dito“ (Jo 12:50).
O evangelho de Cristo não possui várias vertentes e nem comporta várias interpretações. O substantivo grego πίστις, transliterado pistis e traduzido por ‘fé’, foi utilizado pelo apóstolo Paulo para fazer referência ao evangelho como ‘unidade’, um corpo de doutrina que não comporta várias vertentes: “Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo” (Ef 4:13).
Qualquer doutrina à margem do evangelho de Cristo é anátema. Nenhuma celebridade, pastor, teólogo, etc., mesmo sendo uma personalidade histórica, não detém autoridade para postular uma doutrina ou uma interpretação que assuma o valor de doutrina bíblica, nem mesmo o apóstolo Paulo: “Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho, além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema” (Gl 1:8 -9).
Aos que contestavam a ressurreição dentre o mortos, argumentou o apóstolo Paulo: “Se, como homem, combati em Éfeso contra as bestas, que me aproveita isso, se os mortos não ressuscitam? Comamos e bebamos, que amanhã morreremos” (1Co 15:32). Essa argumentação também serve para muitos seguimentos doutrinários, pois se há predestinação para salvação, que aproveita o combate em defesa do evangelho?
“Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da salvação comum, tive por necessidade escrever-vos e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos” (Jd 1:3).
1. Calvinismo X Arminianismo
O maior obstáculo à compreensão da doutrina da predestinação e do livre-arbítrio, foi estabelecido por dois teólogos: João Calvino e Jacob Armínio.
Diante das doutrinas de Calvino e de Armínio, alguns teólogos afirmam que a doutrina calvinista é antagônica à doutrina arminianista, entretanto, quando analisadas, ambas as doutrinas derivam do mesmo erro: entender que Deus escolhe e predestina quem vai ser salvo ou não.
A discussão sobre a soberania de Deus e o livre-arbítrio do homem, mediante perspectivas arminianistas e calvinistas, realmente demonstra que tais correntes são inconciliáveis, para não dizermos, paradoxais.
A Bíblia ensina que qualquer que invocar o Senhor será salvo (Jl 2:32; At 2:21; Rm 10:13), e não faz referência à soberania de Deus e nem à sua onisciência. O profeta Isaias destaca que as mãos de Deus não estão encolhidas para que não possa salvar e nem agravados os seus ouvidos (Is 59:1). Por que não encontramos um texto bíblico onde é enfatizado que Deus é soberano para salvar? Por que não é enfatizado que Deus salva por sua onisciência? Por que a Bíblia enfatiza o perdão, a misericórdia e a benignidade de Deus, em vez da soberania e da onisciência?
“Mas contigo está o perdão, para que sejas temido” (Sl 130:4);
“TEM misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias” (Sl 51:1).
É incrível o empenho de muitos em propagar o calvinismo e o arminianismo, mesmo quando se reconhece várias discrepâncias de tais sistemas doutrinários com as Escrituras. Por que enfatizar que essas doutrinas são escrituristicas, se ambas são inconciliáveis e, como alguns dizem, cercadas de riscos, pois podem levar os seus seguidores ao extremismo?
2. Pensamento dos gregos
É notório que a filosofia grega influenciou largamente teólogos, padres e pastores ao longo da história da igreja.
O platonismo tornou-se referência de pensadores como Agostinho, Boécio, João Escoto Erígena e Boaventura de Bagnoregio e o aristotelismo, de pensadores da estirpe de Tomás de Aquino.
Sem nos atermos às influências do pensamento grego no cristianismo, vale lembrar que, na mitologia grega, havia uma entidade cega, Moros, em grego Μόρος, o deus da sorte e do destino. Esse deus não via a quem reservava o futuro, porém, o futuro reservado, quer dos deuses ou dos mortais, era inescapável.
A mitologia grega vinculava deuses e mortais a um destino, pois o deus ‘Destino’ ditava os acontecimentos, e até mesmo Zeus não podia evitar o seu destino. Vários mitos gregos evidenciam o caráter fatalista[3] da cultura grega antiga, fatalismo que se vê também entre os filósofos estoicos e os romanos.
O pensamento da cultura grega e os seus mitos, destoam completamente do pensamento bíblico, pois vinculam deuses e homens a um destino.
Através da parábola dos dois caminhos, Jesus evidencia que os homens não tem um destino pré-estabelecido, pois a parábola apresenta os caminhos atrelados a um destino, e não homens atrelados a determinados destinos.
“Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição e muitos são os que entram por ela; E porque estreita é a porta e apertado o caminho que leva à vida, poucos há que a encontram” (Mt 7:13-14)
Existem somente dois caminhos e cada qual está vinculado a um destino: o caminho largo está vinculado à perdição e o caminho estreito vinculado à salvação. Segundo essa perspectiva, nenhum homem está diretamente vinculado a um destino, mas, sim, à porta por onde entrou.
Há duas portas, sendo uma larga e a outra estreita. Para entrar pela porta estreita, é necessário nascer de novo; de modo semelhante, é através do nascimento natural que o homem entra pela porta larga.
Jesus é a porta estreita – o último Adão -, semelhantemente Adão, o primeiro homem, é a porta larga, por quem os homens entram no mundo.
Quando os homens nascem (vêm ao mundo), entraram por Adão (a porta larga) que os deixa em um caminho largo, que conduz à perdição. Todos os homens, ao nascerem, entram no mundo por Adão (nascidos do sangue, da vontade da carne e da vontade do varão), uma porta larga que não lhes foi dada a oportunidade de escolher entrar, mas que dá acesso a um caminho de perdição.
A escolha que trouxe o caminho de perdição acessível a toda humanidade foi realizada por Adão, quando comeu do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Adão fez uma escolha que afetou a condição de todos os seus descendentes, desde o nascimento: portanto, os homens nascem de uma porta larga (Adão) e trilham um caminho que, apesar de não terem escolhido, os conduzirá à perdição (Sl 58:3).
Os ensinamentos bíblicos e o pensamento grego são antagônicos, pois este se pauta pelo fatalismo, enquanto que, aquele, pelo propósito eterno de Deus. Nenhum homem veio ao mundo (nasceu) destinado ao céu ou ao inferno. Enquanto a cultura grega tinha um pensamento fatalista, Jesus esclarece que todos os homens não possuem um destino pré-estabelecido.
Longe de Deus destinar alguém à perdição, sob o argumento de sua soberania. Ninguém que entra por Adão no mundo está, ou esteve, predestinado à perdição, no sentido grego (fatalismo). Quando Adão pecou e afetou todos os seus descendentes com a sua decisão, Deus anunciou ao casal, que estava sendo expulso do Éden, redenção, através da semente da mulher, a todos os homens.
Os homens entram no mundo sem exercerem uma escolha, ou seja, ninguém que nasceu ou nascerá no mundo, escolheu entrar pela porta larga, mas, uma vez no mundo, é anunciada uma oportunidade de redenção, o que torna possível uma decisão por parte do homem que o livrará da condenação.
Não cabe ao homem no mundo uma escolha para decidir o seu destino, pois essa escolha já foi realizada por Adão. Agora, cabe ao homem, uma decisão, pois já está em um caminho que o conduz a perdição. Daí a ordem: “Entrai pela porta estreita…” (Mt 7:13).
O homem entra por Cristo (porta estreita) quando nasce de novo. Para nascer de novo, basta crer com o coração, que Deus ressuscitou Jesus dentre os mortos e confessar que Ele é o Filho do Deus vivo:
“A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a justiça e com a boca se faz confissão para a salvação” (Rm 10:9-10).
Na Bíblia, a visão grega fatalista não existe, assim como qualquer outro princípio filosófico/teológico semelhante, como o determinismo.
O posicionamento bíblico acerca da salvação e da perdição, está bem delineado nas palavras que Deus disse a Ezequiel:
“Filho do homem: Eu te dei por atalaia sobre a casa de Israel; e tu, da minha boca, ouvirás a palavra e avisá-los-ás da minha parte. Quando eu disser ao ímpio: Certamente morrerás; e tu não o avisares, nem falares para avisar o ímpio acerca do seu mau caminho, para salvar a sua vida, aquele ímpio morrerá na sua iniquidade, mas o seu sangue, da tua mão o requererei. Mas, se avisares ao ímpio e ele não se converter da sua impiedade e do seu mau caminho, ele morrerá na sua iniquidade, mas tu livraste a tua alma. Semelhantemente, quando o justo se desviar da sua justiça e cometer iniquidade, e eu puser diante dele um tropeço, ele morrerá: porque tu não o avisaste, no seu pecado morrerá; e suas justiças, que tiver praticado, não serão lembradas, mas o seu sangue, da tua mão o requererei. Mas, avisando tu o justo, para que não peque, e ele não pecar, certamente viverá; porque foi avisado; e tu livraste a tua alma” (Ez 3:17-21).
3. Perdição e salvação
A Bíblia apresenta dois caminhos, com dois destinos: salvação e perdição. De onde surgiu a concepção, eivada de malignidade, de que Deus destinou alguns homens à salvação e outros à perdição, antes mesmo de nascerem?
Vincular indivíduos a destinos, antes mesmo de nascerem, é pensamento contrário às Escrituras, pois a Bíblia evidencia que os destinos estão vinculados aos caminhos. Se alguém nascido da carne e do sangue (Adão) não tomar a decisão de acatar o convite de Deus, será conduzido pelo caminho largo à perdição, mas qualquer que nascer do espírito (último Adão), acatando o convite de Deus, estará no caminho estreito (Cristo), que conduz o homem a Deus.
O homem, por si só, não vai à perdição ou à salvação, antes é conduzido pelos caminhos, no qual se encontra:
“Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição e muitos são os que entram por ela; E porque estreita é a porta e apertado o caminho que leva à vida, poucos há que a encontrem” (Mt 7:13-14)
Se Deus determinasse, de antemão, quem seria salvo ou não, não haveria a necessidade de Cristo vir ao mundo e morrer pela humanidade. Seria contrassenso a necessidade de haver quem pregue o evangelho. Também, não seria exigível crer em Cristo.
Teríamos que considerar que os destinados à salvação nunca se perderam de fato, ou seja, nunca estiveram sujeitos ao pecado e à morte. Esses destinados à salvação, não precisariam morrer e serem sepultados com Cristo, para ressurgirem uma nova criatura.
A parábola dos dois caminhos contém um princípio cristalino, acerca da salvação, em Cristo, e da perdição, em Adão, que não deve ser ignorado, quando da leitura de outras passagens bíblicas que tratam de temas como salvação e perdição.
4. Os terrenos e os espirituais
Certo é que ‘… a morte veio por um homem, também, a ressurreição dos mortos, veio por um homem’, pois ‘… assim como todos morrem em Adão, assim, também, todos serão vivificados em Cristo’ (1Co 15:21-22).
O primeiro Adão, foi criado alma vivente e o último Adão, estabelecido como espirito que dá vida. Há uma ordem natural: primeiro é criado o homem natural, através da carne e do sangue de Adão e só então, é criado o homem espiritual, segundo a palavra do último Adão, que é espirito e vida (Jo 6:63).
O homem nascido da carne e do sangue de Adão é terreno, assim como foi Adão. Adão é da terra, portanto, carne e sangue não concedem direito aos homens de entrar no reino dos céus: “E agora digo isto, irmãos: que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdarem a incorrupção” (1Co 15:50).
É por isso que Jesus disse que os nascidos da carne é carne e os nascidos do espírito é espirito, ao evidenciarem ser necessário nascer de novo.
Os nascidos da carne e do sangue de Adão são carnais e terrenos, portanto, não podem herdar o Reino dos céus. Mas, os gerados segundo a semente incorruptível, são herdeiros do reino dos céus, pois são celestiais tal qual o Senhor, que é do céu.
Adão é a porta larga, porque todos os homens que vem ao mundo têm que entrar pela carne e o sangue de Adão. É através de Adão que entrou a morte no mundo e todos os seus descendentes morreram em Adão. Cristo é a porta estreita, porque é o último Adão e são poucos os que estão mortos em delitos e pecados que O encontram, ou seja, tornam-se participantes da sua carne e sangue.
O apóstolo Paulo, em poucas palavras, resume como, através de Adão, se deu a perdição e, como através de Cristo, o último Adão, se dá a salvação:
“Assim está também escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente; o último Adão, em espírito vivificante. Mas, não é primeiro o espiritual, senão o natural; depois, o espiritual. O primeiro homem, da terra, é terreno; o segundo homem, o SENHOR, é do céu. Qual o terreno, tais são também os terrestres; e, qual o celestial, tais também os celestiais” (1Co 15:45-48).
Para salvar o que efetivamente havia se perdido, Deus enviou o Seu Filho unigênito ao mundo, conforme estabelecido nas Escrituras. É em função da promessa de que Cristo viria ao mundo, que os patriarcas e os crentes da Antiga Aliança foram salvos, pois creram que Deus haveria de enviar ao mundo o Descendente, em quem todas as famílias da terra seriam benditas.
No mundo, o Unigênito do Pai revelou o Pai aos homens e, através d’Ele, os homens puderam comprovar que Deus é fiel e verdadeiro. Cristo prosperou naquilo para o qual foi enviado (Is 53:10; Is 55:11), pois, como servo, foi obediente em tudo ao Pai, portanto, foi estabelecido como luz para os gentios: “Disse mais: Pouco é que sejas o meu servo, para restaurares as tribos de Jacó e tornares a trazer os preservados de Israel; também te dei para luz dos gentios, para seres a minha salvação até à extremidade da terra” (Is 49:6).
Para ser salvo, eis a receita:
“E há de ser que todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo” (Jl 2:32; Rm 10:13).
Salvação se obtém única e exclusivamente desta forma:
“… esta é a palavra da fé, que pregamos, a saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto que, com o coração, se crê para a justiça e com a boca, se faz confissão para a salvação. Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido” (Rm 10:8-11).
Se houver dúvidas, observe como os cristãos de Éfeso foram salvos:
“Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa” (Ef 1:13).
Para que houvesse salvação, primeiro Deus providenciou a palavra da fé e por isso foi anunciado o evangelho, primeiramente a Abraão (Gl 3:8). Na plenitude dos tempos, a ‘fé’ foi manifesta aos homens, pois sem ‘ela’ seria impossível ao homem agradar a Deus: “Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar” (Gl 3:23; Hb 11:6).
É através da fé – Cristo – o firme fundamento, que os homens são enviados a pregar, anunciando boas novas de salvação, pois como ouvirão se não há quem anuncie as boas novas? E, como invocarão aquele em quem não creram? (Rm 10:14-15)
É nesse sentido que a ‘fé’ precede a ‘conversão’ e o ‘novo nascimento’. Primeiro foi dada a palavra da fé – o evangelho de Cristo, que deve ser anunciado para, depois, haver arrependimento e o novo nascimento.
Não encontramos nas Escrituras Deus dizendo: – “Eu sou soberano para salvar”, ou – “Estou antevendo quem vou salvar”, antes é anunciado: – “EIS que a mão do SENHOR não está encolhida, para que não possa salvar; nem agravado o seu ouvido, para não poder ouvir” (Is 59:1), pois a mensagem é simples: “Porque todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo” (Rm 10:13).
O pronome ‘todo’ é inclusivo, ou seja, ‘qualquer’ que invocar o nome do Senhor será salvo, pois as suas mãos não estão encolhidas (Ele é poderoso para salvar) e os seus ouvidos não estão agravados.
Em momento algum Deus declara que escolherá aqueles que Ele há de salvar. Quando o tema é salvação, Deus é poderoso e está pronto para salvar a qualquer que o invocar. A salvação nem mesmo aparece na Bíblia, em conexão com a soberania e a onisciência divinas.
“O SENHOR teu Deus, o poderoso, está no meio de ti, ele salvará; ele se deleitará em ti com alegria; calar-se-á por seu amor, regozijar-se-á em ti com júbilo” (Sf 3:17).
Predestinação
Após explicar que a morte entrou no mundo e todos morreram por causa da ofensa de Adão e que a ressureição veio por meio de Cristo e por Ele serão vivificados todos os que creem (1Co 15:21-22), o apóstolo Paulo demonstra que não há diferença alguma entre Adão e os seus descendentes e que não haverá diferença nenhuma entre Cristo e os seus muitos irmãos.
“Qual o terreno, tais são também os terrestres; e, qual o celestial, tais também os celestiais. E, assim como trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial” (1Co 15:49).
Adão foi criado pelo Verbo eterno, assim como todas as coisas (Hb 1:10-12; Sl 102:25-27). Quando Adão foi criado, o Verbo eterno, teofanicamente, manifestou-se e formou o homem do pó da terra e, ao soprar em suas narinas, o homem tornou-se alma vivente.
Mas, qual foi a imagem que foi dada a Adão, quando formado do pó da terra? Resposta: foi concedida a Adão a imagem que Cristo deveria ter quando viesse ao mundo “… o qual (Adão) é a figura daquele que havia de vir (Cristo)” (Rm 5:14). Uma questão de lógica, pois se fosse dada outra imagem a Adão, quando Cristo viesse ao mundo, teria a mesma imagem, segundo a imagem concedida a Adão.
Nesta abordagem, não estamos evidenciando a perdição, decorrente da ofensa de Adão, mas, sim, como seria a imagem de Cristo na plenitude dos tempos, se fosse concedida outra imagem a Adão diversa da que foi dada no Éden.
Quando Deus criou Adão, todos os descendentes de Adão foram preordenados a serem tal qual Adão, pois qual o terreno, tais são, também, os terrestres.
O apóstolo Paulo explica que, assim como todos os homens são como o terreno Adão, os nascidos de novo em Cristo Jesus, quando revestidos da imortalidade, serão semelhantes a Ele (traremos também a imagem do celestial):
“Amados, agora somos filhos de Deus e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos” (1Jo 3:2).
Quando Cristo se manifestar em glória (1Jo 3:2), será possível aos nascidos de novo trazerem uma imagem diferente da imagem que Cristo, glorificado, agora possui à destra da Majestade nas alturas?
Se os crentes hão de ser semelhantes a Cristo, é impossível que os que creem em Cristo venham a ter uma imagem diversa da imagem de Cristo glorificado, e o motivo é bem claro: “… pois assim como trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial” (1Co 15:49). A questão que o evangelista João aborda neste verso não diz da salvação em Cristo, mas da imagem que os salvos em Cristo haverão de ter quando Ele se manifestar.
Por causa de uma má leitura das Escrituras, ao longo da história da igreja, acreditou-se que a predestinação era para a salvação, porém, a predestinação é garantia de que o crente em Cristo, quando for revestido da imortalidade e incorrupção, há de ser conforme a imagem de Cristo.
Todas as vezes que o termo predestinação é utilizado na Bíblia, não aponta para a salvação em Cristo, antes aponta para a imagem, à semelhança de Cristo:
“Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8:29).
A predestinação tem um objetivo e atende a um propósito específico: a primogenitura de Cristo! Para o propósito de Deus ser levado a efeito, se fez necessário estabelecer de antemão qual imagem seria dada aos de novo gerados, os irmãos de Cristo.
O objetivo da predestinação é que todos os que creem em Cristo sejam conforme a imagem (semelhança) de Cristo. Os irmãos de Cristo não serão como os homens e nem como os anjos, antes, todos serão tal qual Cristo é.
O propósito da predestinação foi estabelecido por Deus em Cristo (Ef 3:11), pois, quando os cristãos foram predestinados a serem semelhantes a Cristo, por sua vez, Cristo é elevado à condição de primogênito entre muitos irmãos (semelhantes).
Romanos 8, verso 29 primeiro, trata da salvação em Cristo, depois aborda a predestinação. Primeiro o apóstolo Paulo escreve acerca da salvação: “Porque os que dantes conheceu…”, e, em seguida, escreve acerca da predestinação: “… também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (v. 29).
Que erro grosseiro ler que Deus predestinou para ser salvo, sendo que está escrito que Deus predestinou para ser conforme a imagem de Cristo, ou seja, que os cristãos serão semelhantes a Ele.
O verbo grego προγινώσκω transliterado proginóskó traduzido por ‘dantes conheceu’ não se refere a ‘saber de antemão’, ‘saber previamente’, ‘ter conhecimento de antemão’. Ora, Deus é onisciente, portanto, sabedor de todas as coisas, quer seja os eventos do passado, quer seja os eventos do presente e igualmente os eventos do futuro.
É sem sentido afirmar que Deus é presciente, se Ele é onisciente. Presciência é reducionismo do atributo divino da onisciência.
O verbo grego προγινώσκω empregado no verso 29, de Romanos 8, não significa ‘saber de antemão’, antes foi utilizado para evidenciar a comunhão do crente com Deus. O termo foi utilizado para evidenciar comunhão intima com Deus, semelhante ao conhecimento que une homem e mulher em um só corpo.
O termo προγινώσκω contrapõe a ideia evidenciada pelo termo γινώσκω, quando utilizado por Cristo, ao dizer: “E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (Mt 7:23). Apesar de onisciente, conhecedor de todas as coisas, os praticantes da iniquidade nunca se fizeram um corpo com Cristo: “Porque somos membros do seu corpo, da sua carne e dos seus ossos” (Ef 5:30).
O apóstolo evidenciou que Deus só predestina a ser conforme a semelhança de Cristo, apenas aqueles que passaram (dantes) a ter comunhão intima (conhecer) com Deus: “E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um” (Jo 17:22).
Só é conhecido de Deus aquele que ama a Deus, pois Ele mesmo disse que ‘ama aos que me amam’. “Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido dele” (1Co 8:3); “Eu amo aos que me amam, e os que cedo me buscarem, me acharão” (Pv 8:17). Dantes conhecer é o mesmo que, de antemão esperar em Cristo (Ef 1:12).
O sentido do termo grego amor (ágape), utilizado nestes versos, é honrar, obedecer. Portanto, só é conhecido de Deus, ou antes, Deus é conhecido de alguém, quando se guarda o seu mandamento, ou seja, quando O ama: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai e eu o amarei e me manifestarei a ele” (Jo 14:21); “Mas, agora, conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir?” (Gl 4:9).
Só os que amam a Deus, ou seja, aqueles que se tornaram um com Ele, em Cristo estão predestinados a serem conforme a semelhança de Cristo (Jo 17:21).
Primeiro, a salvação, depois, a predestinação! Primeiro, a salvação, depois, a eleição, como se lê:
“Portanto, não te envergonhes do testemunho de nosso SENHOR, nem de mim, que sou prisioneiro seu; antes participa das aflições do evangelho segundo o poder de Deus, que nos salvou e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça, que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos dos séculos” (2Tm 1:9).
O apóstolo Paulo destaca o evangelho, ou seja, o testemunho de nosso Senhor, que é o poder de Deus (Rm 1:16). Ora, é através do evangelho que o homem é salvo e, para isso, é necessário que haja quem pregue, para que os homens possam crer, pois como crerão se não há quem pregue?
O apóstolo Paulo recomenda a Timóteo que participe das aflições do evangelho, o poder de Deus que ‘nos salvou’, ou seja, salvou tanto o apóstolo Paulo, quanto a Timóteo (Ef 1:13).
Após salvo por intermédio do evangelho, os crentes são chamados com uma santa vocação. Assim como a predestinação, o chamado, segundo a santa vocação, tem um objetivo e atende a um propósito. O objetivo da vocação é para ser santo e irrepreensível diante de Deus (Ef 1:4). O proposito é o louvor e glória da graça que propôs convergir em Cristo todas coisas, para que em tudo Ele tenha a preeminência (Ef 1:10).
Os crentes em Cristo foram eleitos para serem santos e irrepreensíveis, porque constituem o corpo de Cristo. Como a cabeça é santa, o corpo também tem de ser, por isso, Deus elegeu os crentes em Cristo, a fim de serem santos e irrepreensíveis e Cristo alcança a preeminência, como a cabeça do corpo: “E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência” (Cl 1:18).
Ora, antes da fundação do mundo Deus elegeu a Cristo e a sua geração, dai o predicativo: geração eleita: “Mas, vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pd 2:9).
Má leitura
Muitos, quando leem: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gn 1:26), entendem que Deus criou o homem para ser adorado e louvado, no entanto, Deus criou o homem, segundo o propósito que fez em Cristo, para que em tudo Cristo tivesse a preeminência e assim, os homens em Cristo, fossem louvor e glória para a sua graça.
A imagem e semelhança anunciadas no Éden, não foram dadas a Adão, antes, o que foi concedido a Adão, foi a imagem daquele que haveria de vir: a imagem de Jesus Cristo-homem.
Quando Cristo ressurgiu dentre os mortos, alcançou a imagem e a semelhança de Deus (Sl 17:15), tornando-se a expressa imagem do Deus invisível (Hb 1:3), quando a vontade de Deus, anunciada antes da criação, cumpriu-se: Cristo, o Descendente de Davi, tornou-se à imagem e semelhança do Deus invisível.
A semelhança que Cristo alcançou, quando ressurgiu dentre os mortos, diz da semelhança que Satanás intentou alcançar, quando pensou: “Subirei sobre as alturas das nuvens e serei semelhante ao Altíssimo” (Is 14:14). É consenso, em meio aos cristãos, que Satanás quis ser Deus, no entanto, o que ele queria mesmo, era ser semelhante ao Altíssimo, posição que Cristo alcançou quando ressurgiu dentre os mortos e todos os que n’Ele creem, estão predestinados a receber.
Os calvinistas dizem que na Bíblia há uma coleção de versículos afirmando que Deus é soberano para escolher quem Ele quer para salvar. Tremendo engano, pois as Escrituras enfatizam o poder de Deus, mas, não a sua soberania: “Ao Todo-Poderoso não podemos alcançar; grande é em poder; porém a ninguém oprime em juízo e grandeza de justiça” (Jó 37:23).
A soberania está relacionada à posição de maioral entre semelhantes e o rei Davi, neste sentido, era soberano em Israel. Deus é criador de todas as coisas, portanto, não há ninguém que se compare ou iguale a Ele. Dizemos que Deus é soberano, porque Ele é inatingível e inigualável, porém, as Escrituras não enfatizam a soberania de Deus, mas, o poder, a justiça, a fidelidade, o amor, etc.
A Bíblia apresenta Jesus Cristo como soberano, pois Ele é da casa de Davi, seu Pai, e se assentará para reinar sobre os seus irmãos e sobre toda a terra. Soberano é um titulo que pertence a Cristo, pois regerá as nações com vara de ferro: “Porque Judá foi poderoso entre seus irmãos e dele veio o soberano; porém, a primogenitura foi de José)” (1Cr 5:2).
A maioria dos Salmos que apontam para o Senhor Altíssimo, diz respeito a Cristo, o Rei grande, visto que o principado está sobre Cristo: “Porque o SENHOR Altíssimo é tremendo e Rei grande sobre toda a terra. Ele nos subjugará os povos e as nações debaixo dos nossos pés” (Sl 47:2-3); “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Is 9:6).
Ao longo da história da igreja, textos bíblicos como: Rm 8:29, Ef 1:4-5 e11, Rm 9:6-29, 1Pe 2:8, Jd 4 e 1Pe 1:2 e 20 são mal interpretados, para afirmarem o fatalismo calvinista. É uma aberração, afirmar, com base em Romanos 8, verso 29, que Deus predestinou alguns para a salvação, se o texto bíblico afirma claramente que Deus predestinou os que se fizeram um corpo com Cristo, para serem conforme a imagem do seu Filho.
O apóstolo Paulo não afirmou que o homem é predestinado para ser salvo e nem que é predestinado para ser filho, pois a filiação divina é alcançada através do poder que Deus concede aos que creem em Cristo: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome; Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (Jo 1:12-13).
Para ser salvo e ser um dos filhos de Deus, só é possível por meio da fé em Cristo, portanto, a salvação e a filiação não vêm pela predestinação. A predestinação é para ser conforme a imagem de Cristo, para que Ele seja primogênito entre muitos irmãos. A predestinação visa o propósito de Deus em Cristo, que é a preeminência de Cristo em todas as coisas.
Ao escapar do erro calvinista, há a igualmente perigosa e equivocada doutrina dos arminianistas, que aponta algumas verdades, como a necessidade de arrependimento para a salvação e que o homem pode rejeitar a oferta de salvação em Cristo, mas enfatizam que Deus, prevendo quem haveria de crer, predestina alguns à salvação.
Previsão e premonição, são termos que se aplicam aos homens que desconhecem o futuro. Deus não prevê o futuro e nem tem premonição, visto que Ele é onisciente e onipresente. Prever e antever são verbos que não se aplicam a Deus, pois todas as coisas estão nuas e patentes aos seus olhos.
Assim como Deus não pode mentir, Ele não pode escolher alguns e desprezar outros, pois Ele não faz acepção de pessoas. O que Deus escolheu foi salvar os que O amam, ou seja, os que guardam os seus mandamentos. Somente aqueles que O honram, serão honrados por Ele: “Saberás, pois, que o SENHOR teu Deus, ele é Deus, o Deus fiel, que guarda a aliança e a misericórdia até mil gerações aos que o amam e guardam os seus mandamentos” (Dt 7:9); “Portanto, diz o SENHOR Deus de Israel: Na verdade tinha falado eu que a tua casa e a casa de teu pai andariam diante de mim perpetuamente; porém, agora, diz o SENHOR: Longe de mim tal coisa, porque aos que me honram honrarei, porém os que me desprezam serão desprezados” (1Sm 2:30); “Se alguém me serve, siga-me, e onde eu estiver, ali estará também o meu servo. E, se alguém me servir, meu Pai o honrará” (Jo 12:26); “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele” (Jo 14:21).
Só amam a Deus aqueles que guardam o seu mandamento, portanto, só ama a Deus aquele que crê em Cristo, pois este é o mandamento: “E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho, Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento” (1Jo 3:23).
Segundo a teologia, diante das doutrinas calvinista e arminianista, não há outro caminho a trilhar, se não o do equilíbrio. O termo paradoxo, tão utilizado na filosofia passou a ser utilizado pela teologia para explicar os erros teológicos inexplicáveis.
O entendimento com viés grego fatalista, de que Deus traçou um plano para a vida dos homens que é impossível de escapar e sem oferta real de salvação, contaminou a leitura bíblica de muitos.
Tornou-se consenso que os homens são autômatos, desempenhando um papel previamente estabelecido por Deus, assim como os gregos conceberam o mitológico deus Destino.
Em resumo, a verdade bíblica cristalina descreve todos os nascidos da vontade da carne, da vontade do varão e do sangue como perdidos, alienados de Deus por causa da ofensa de Adão. Para ser salvo, é necessário crer que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para isso são anunciadas as boas novas de salvação, que descrevem o Cristo como o Filho de Davi, portanto, o Filho de Deus.
Após crer em Cristo, o homem se torna um com Ele, e, de agora em diante, na condição de salvo e filho de Deus, não lhe resta alternativa: será semelhante a Cristo, pois Ele é o primogênito entre muitos irmãos!
VI. Deus endurece a quem quer, ou confirma a atitude do coração?
Deus não fica impassível diante de um coração contrito (Sl 51:17; Sl 34:18; Is 57:15), de modo que Ele demonstra misericórdia aos que O obedecem. Deus ama os que O amam (Dt 30:20; Pv 8:17), pois, guardar o mandamento, é o amor de Deus.
Deus endurece a quem quer?
“Logo, pois, compadece-se de quem quer e endurece a quem quer.” (Rm 9:18)
Como compreender a conclusão do apóstolo Paulo: “Logo, pois, compadece-se de quem quer e endurece a quem quer”, que teve por base a passagem do Êxodo, em referência à palavra de Deus, anunciada a Faraó? (Rm 9:18)
“Porque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar o meu poder e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra.” (Rm 9:17)
Unilateralmente, Deus salva a quem quer e condena a quem quer? O apóstolo Paulo estava tratando da salvação da humanidade, ao concluir que Deus endurece a quem quer?
Esse exercício é necessário por causa de ‘como lemos’ as Escrituras! Certa vez, um doutor da lei questionou Jesus, acerca do direito à vida eterna e Jesus respondeu:
“E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês?” (Lc 10:26)
Há uma grande diferença entre o que está escrito e como se interpreta. O doutor da lei sabia o que estava escrito, porém, ao tentar justificar a si mesmo, demonstrou que desconhecia quem era o seu próximo. (Lc 10:29).
Como esse doutor da lei poderia ler, compreender e ensinar acerca da lei, se desconhecia quem era o seu próximo? Como alcançar a justiça da lei, sem saber quem é o próximo?
A chave
“Com o benigno te mostrarás benigno; e com o homem sincero te mostrarás sincero; com o puro te mostrarás puro; e com o perverso te mostrarás indomável.” (Sl 18:25)
O rei Davi, no Salmo 18, demonstra que Deus se mostra misericordioso com quem é misericordioso. Davi utilizou o adjetivo [1]חָסִיד (chaciyd), para descrever o homem que se sujeita a Deus como servo, obedecendo aos seus mandamentos e o verbo [2]חסד(chacad), para fazer referência a Deus, que demonstra misericórdia.
O profeta Davi bem sabia a quem Deus demonstra misericórdia, assim como o exposto no Deuteronômio:
“E faço misericórdia a milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos.” (Dt 5:10)
Semelhantemente, com o homem perfeito,[3] Deus se mostra perfeito[4]. Como é possível ao homem ser perfeito? Ao falar com Abraão, Deus instruiu o patriarca a andar na Sua presença para alcançar tal posição:
“SENDO, pois, Abrão da idade de noventa e nove anos, apareceu o SENHOR a Abrão e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso, anda em minha presença e sê perfeito.” (Gn 17:1; Dt 18:13).
Abraão tinha consciência de sua perfeição, pois, ele mesmo declara que andava na presença de Deus. (Gn 24:40).
“Porquanto, Abraão obedeceu à minha voz e guardou o meu mandado, os meus preceitos, os meus estatutos e as minhas leis.” (Gn 26:5)
Basta sujeitar-se a Deus, obedecendo ao que Ele já declarou na Sua palavra, que o homem é perfeito: “Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o SENHOR pede de ti, senão que pratiques a justiça, ames a benignidade e andes, humildemente, com o teu Deus?” (Mq 6:8)
“Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso.” (Lc 6:36);
“Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.” (Mt 5:48);
“Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; vem e segue-me.” (Mt 19:21)
Tiago declara que todos os cristãos tropeçam em muitas coisas, mas aquele que não tropeça na palavra da verdade é perfeito. (Tg 3:2)
Deus se evidencia justo, verdadeiro, sem mistura, ou seja, perfeito, para o homem que anda em sua presença, ou seja, que é perfeito. Com relação ao puro, Deus, também, se evidencia puro[5], ou seja, justo, bondoso.
No entanto, Deus se revela impossível[6], indomável, no sentido de não demonstrar a sua misericórdia, benignidade, ao homem que não se sujeita a Ele (perverso)[7].
Essa abordagem do Salmista é semelhante ao exposto pelo apóstolo Paulo:
“Palavra fiel é esta: que, se morrermos com ele, também, com ele viveremos; Se sofrermos, também, com ele reinaremos; se o negarmos, também, ele nos negará; Se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo.” (2 Tm 2:11)
Deus não fica impassível diante de um coração contrito (Sl 51:17; Sl 34:18; Is 57:15), de modo que Ele demonstra misericórdia aos que O obedecem. Deus ama os que O amam (Dt 30:20; Pv 8:17), pois, guardar o mandamento, é o amor de Deus.
“Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são pesados.” (1 Jo 5:3).
O apóstolo João, ao dar essa declaração, interpreta Deuteronômio 30, verso 11:
“Porque este mandamento, que hoje te ordeno, não te é difícil de mais e, tampouco, está longe de ti.” (Dt 30:11)
Dependendo de como o homem se posiciona diante do mandamento de Deus, há promessa de vida ou, de expectação de morte:
“Vês aqui, hoje te tenho proposto a vida e o bem, a morte e o mal; Porquanto, te ordeno hoje que ames ao SENHOR teu Deus, que andes nos seus caminhos, e que guardes os seus mandamentos, os seus estatutos e os seus juízos, para que vivas, e te multipliques e o SENHOR teu Deus te abençoe na terra, a qual entras a possuir. Porém, se o teu coração se desviar e não quiseres dar ouvidos e fores seduzido para te inclinares a outros deuses e os servires, Então, eu vos declaro hoje que, certamente, perecereis; não prolongareis os dias na terra a que vais, passando o Jordão, para que, entrando nela, a possuas.” (Dt 30:15-18)
A palavra do evangelho tem essa mesma característica:
“E em nada vos espanteis dos que resistem, o que para eles, na verdade, é indício de perdição, mas, para vós, de salvação e isto, de Deus.” (Fl 1:28)
Isso porque aprouve a Deus salvar os que creem em Sua palavra, pois, Ele demonstra misericórdia aos que O amam, ou seja, lhe obedecem, no entanto, Deus, também, se revela zeloso, inflexível, ante os que não aquiescem à sua palavra:
“Saberás, pois, que o SENHOR teu Deus, ele é Deus, o Deus fiel, que guarda a aliança e a misericórdia, até mil gerações, aos que o amam e guardam os seus mandamentos. E retribui no rosto a qualquer dos que o odeiam, fazendo-o perecer; não será tardio ao que o odeia; em seu rosto, lhe pagará.” (Dt 7:9-10);
“Não te encurvarás a elas, nem as servirás; porque eu, o SENHOR teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até à terceira e à quarta geração daqueles que me odeiam. E faço misericórdia a milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos.” (Dt 5:9-10);
“Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não conheceu a Deus, pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes, pela loucura da pregação.” (1 Co 1:21).
Deus é zeloso, ao retribuir a iniquidade sobre o ímpio e fiel, ao demonstrar a sua salvação aos que O amam.
Por causa dessa verdade exarada na lei, o Salmista, poeticamente, utilizando-se de paralelismos e figuras, faz uma descrição profética de como Deus age para com os homens: Ele é fiel, benigno e justo com os que lhe obedecem, porém, zeloso, ou seja, indomável, inflexível com aqueles que rejeitam a sua palavra.
“Com o benigno, te mostrarás benigno; e com o homem sincero, te mostrarás sincero; Com o puro, te mostrarás puro; e com o perverso, te mostrarás indomável.” (Sl 18:25).
Daí a máxima:
“Porém, ele disse: Eu farei passar toda a minha bondade por diante de ti e proclamarei o nome do SENHOR diante de ti; e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei de quem eu me compadecer.” (Êx 33:19).
De quem Deus tem misericórdia e se compadece? Do benigno, do sincero, do puro!
Qualquer pedido do homem, semelhante ao feito por Moisés, que tente mudar a fidelidade (amor) e o zelo (retribuição) de Deus, será inócuo (Dt32:32), pois Ele terá misericórdia de quem lhe apraz, ou seja, dos que O amam e se compadece de quem lhe apraz, dos que guardam o seu mandamento!
Endurece a quem quer
Todos os versos que analisamos, até agora, demonstram a natureza de Deus e como Ele age para com os homens: misericórdia aos que O amam e retribuição aos que O odeiam.
É, através da análise desses textos, que o apóstolo Paulo chega à conclusão de que Deus se compadece de quem quer, logo, após, fazer alusão a Faraó:
“Logo, pois, compadece-se de quem quer e endurece a quem quer.” (Rm 9:18)
Após afirmar que não há injustiça em Deus, apontando para Esaú e Jacó, o apóstolo cita o que foi dito a Moisés: compadecer-me-ei de quem me compadecer (Rm 9:13), porque Deus se compadeceu de Jacó, que havia adquirido o direito de primogenitura e rejeitou a Esaú como primogênito, visto ter desprezado o direito de primogenitura, vendendo-o, por um prato de lentilhas. (Gn 25:34)
De nada adiantou Esaú correr atrás da caça e querer a bênção, rogando a José, seu pai, se a benção estava atrelada à primogenitura e ao primogênito. Deus exerce a sua misericórdia (Rm 9:16). Em Esaú e Jacó evidencia-se que o propósito de Deus, segundo a eleição, fica firme, não por causa das obras, mas pelo que chama.
Deus chamou o primogênito para o seu propósito e a bênção estava reservada para o primogênito. Embora as obras de Esaú, ao sair à caça de um animal cevado, tinha o viés de alcançar a benção, o direito à benção já havia sido decidido quando ele desprezou a primogenitura por um prato de lentilhas.
“Mas, ao filho da desprezada, reconhecerá por primogênito, dando-lhe dobrada porção de tudo quanto tiver; porquanto, aquele é o princípio da sua força, o direito da primogenitura é dele.” (Dt 21:17).
Torna-se evidente o motivo pelo qual a eleição de Deus repousou sobre Jacó: o direto de primogenitura, porém, muitos alegam que não há como saber, como Deus elege alguém para o seu propósito. Esses alegam que o propósito de Deus se dá pela sua soberania, ou que a mente humana é pequena demais para compreendê-lo.
“Ora, todos sabem que o amor e a ira de Deus não se assemelham às paixões humanas; porém, a questão com que ora nos defrontamos não requer que perguntemos como Deus ama ou odeia, mas, por que Deus ama ou odeia (…) O amor e a ira de Deus não estão sujeitos a alterações, conforme ocorre conosco. Em Deus, ambos são eternos e imutáveis. Foram fixados muito antes que o “livre-arbítrio” fosse possível. Vemos nisso, que nem o amor nem a ira de Deus esperam pela reação humana, mas antecedem à mesma. […] O que poderia ter feito Deus amar a Jacó ou odiar a Esaú? Certamente, não por qualquer coisa que eles tivessem feito, pois a atitude de Deus para com eles foi estabelecida e declarada, antes mesmo de terem nascido e não havia muita atuação do “livre-arbítrio” naquela ocasião!” Martinho Lutero, Nascido Escravo, pág. 81.
A Bíblia apresenta resposta às duas perguntas: a) como Deus ama e odeia, e; b) por que Deus ama e odeia. O amor de Deus se evidencia em conceder o que é de direito ao homem e o seu ódio, em negar o que não é de direito ao homem. No caso de Jacó, Deus o amou, porque ele buscou para si o direito de primogenitura e odiou a Esaú, ou seja, não lhe concedeu o que não lhe era de direito.
Quando Deus tirou os filhos de Israel do Egito, não o fez por que eram melhores e mais justos que os povos que habitavam a terra prometida (Dt 9:4-6), antes, porque Deus os amava, ou seja, para guardar o juramento que fizera a Abraão, Isaque e Jacó.
“O SENHOR não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos, em número, do que eles; Mas, porque o SENHOR vos amava, e para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o SENHOR vos tirou com mão forte e vos resgatou da casa da servidão, da mão de Faraó, rei do Egito. Saberás, pois, que o SENHOR teu Deus, ele é Deus, o Deus fiel, que guarda a aliança e a misericórdia até mil gerações aos que o amam e guardam os seus mandamentos. E retribui no rosto qualquer dos que o odeiam, fazendo-o perecer; não será tardio ao que o odeia; em seu rosto lho pagará.” (Dt 7:7-10)
O termo ‘amor’ denota ‘honra’, não sentimento, de modo que Deus ama o que O honra e odeia aos que O desprezam.
“Portanto, diz o SENHOR Deus de Israel: Na verdade, tinha falado eu que a tua casa e a casa de teu pai andariam diante de mim, perpetuamente; porém, agora, diz o SENHOR: Longe de mim tal coisa, porque, aos que me honram honrarei, porém, aos que me desprezam, serão desprezados.“ (1 Sm 2:30)
No caso de Esaú e de Jacó, pelo amor de Deus, já estava estabelecido para quem seria a bênção, antes mesmo que as crianças tivessem nascido ou, feito bem ou, mal: a bênção era para o primogênito. Esaú, de livre-vontade, desprezou o direito e Jacó, de livre vontade, buscou o direito para si, de modo que o amor de Deus não está atrelado ao arbítrio do homem, mas à sua palavra, que estabeleceu o direito do primogênito.
Deus se compadeceu de Jacó, porque ele buscou para si o direto de primogênito e Deus, sendo zeloso, não deu o que não era de direito a Esaú, rejeitando-o, por não ser o primogênito. A bênção da primogenitura não se dá por misericórdia, mas, por eleição, pois, na eleição, o propósito de Deus fica firme, não por causa das obras, mas pelo que chama.
O apóstolo cita as Escrituras, especificamente, com relação ao que foi dito a Faraó:
“Para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar o meu poder e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra.” (Rm 9:17).
Ora, faraó foi levantado para Deus mostrar o Seu poder e o seu Nome ser anunciado sobre a face da terra. O propósito de Deus era anunciar o seu nome e declarar o seu poder e escolheu um dos reis do Egito para isso. Como o propósito de Deus é firme e imutável, não importava o posicionamento de Faraó: Deus anunciaria o seu nome e declararia o seu poder.
Deus não elegeu uma pessoa especifica, mas, um faraó, ou seja, o escolhido poderia ser qualquer rei do Egito. É significativo o fato de a Bíblia não trazer o nome do faraó à época do êxodo, o que demonstra que Deus não elegeu uma pessoa, mas, um rei.
Isso não significa que Deus havia rejeitado faraó, ao levantá-lo. Pelo contrário, se faraó se inclinasse em terra e reconhecesse que Deus é Deus, deixando o povo ir, o poder de Deus seria revelado e anunciado o seu nome em toda a terra. Do mesmo modo, como o propósito é firme, quando faraó não aquiesceu à ordem de Deus, Deus mostrou o seu poder e anunciou o seu nome sobre a face da terra, arrancando o povo com mão forte.
O que o apóstolo Paulo evidencia, ao citar a Faraó, não é a pessoa do rei do Egito, mas, a eleição de Deus, que é firme, por causa do propósito de Deus. Faraó, deixando ou não o povo ir, o propósito de Deus se efetivaria. Observe que o que está em análise não é o coração de Faraó, mas, o fato de Deus se compadecer de quem lhe apraz.
A longanimidade de Deus vem expressa em sua palavra, de modo que falou a faraó por dez vezes, sendo Deus longânime, como o foi nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca. A mesma água do mar vermelho que se abriu para os filhos de Israel, significando salvação, fechou-se sobre Faraó, significando, perdição, assim como nos dias de Noé, em que o mundo inteiro pereceu pela água e somente oito almas se salvaram pela água.
“…quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água; Que, também, como uma verdadeira figura, agora vos salva, o batismo, não do despojamento da imundícia da carne, mas, da indagação de uma boa consciência para com Deus, pela ressurreição de Jesus Cristo.” (1 Pe 3:20-21).
Quando o apóstolo Paulo conclui, com base na palavra dita a faraó, que Deus se compadece de quem quer, evidencia que Deus exerce misericórdia àqueles que Lhe obedecem. O verso trata de como Deus se porta, não do homem.
“Logo, pois, Ele se compadece de quem quer…” (Rm 9:18)
Deus se compadece dos que O obedecem, ou seja, dos que O amam e para Deus exercer a sua misericórdia, Ele não faz acepção de pessoas.
Mas, com relação ao propósito de Deus, opera a eleição, pois o propósito de Deus permanece firme, independentemente, das pessoas envolvidas. Não importava se Esaú ou, Jacó, seriam abençoados, mas, sim, o propósito de Deus, segundo a eleição, que estabeleceu a primogenitura, como critério para conceder a bênção, tendo em vista a linhagem do descendente prometido a Abraão.
Semelhantemente, não importava quem era o faraó à época ou, se ele iria obedecer ou, não, o propósito pelo qual o faraó foi levantado, foi levado a efeito: Deus anunciou o seu nome ao mundo e mostrou o poder de Deus.
Isso significa que Deus ‘endureceu’ a faraó?
“Logo, pois Ele se compadece de quem quer e endurece a quem quer.” (Rm 9:18).
Definitivamente não! Deus não agiu sobre a vontade, influenciando a decisão de faraó, de modo a torná-lo recalcitrante. O verso não aponta uma pessoa que era o faraó, à época, e nem para os homens, mas, sim, para Deus, descrevendo-O como zeloso (indomável, impossível), quando o homem é perverso, desobediente.
Do mesmo modo que Deus é compassivo com quem quer, Deus é indomável com quem quer:
“Assim, pois (de) quem (ele) quer tem misericórdia, (a) quem [2] mas[1] quer endurece”. Novo Testamento Interlinear Grego-Português (SBB).
Os termos gregos ἐλεεῖ e σκληρύνει estão na terceira pessoa do singular, do tempo presente, modo indicativo e voz ativa. Os verbos na frase não contém outro sujeito além de Deus. É Deus que tem misericórdia de quem quer, e é Ele que é inflexível, ou seja, zeloso, com quem quer.
Através da língua grega, o apóstolo Paulo reproduz uma premissa imortalizada no Livro do Êxodo, através de um paralelismo, que, em essência, é a repetição de uma ideia, recurso essencial às poesias hebraicas. Fazendo uma releitura do exposto no Êxodo a Moisés, Deus evidencia a verdade da sua misericórdia, através de um paralelismo sinômico:
“Porém, ele disse: Eu farei passar toda a minha bondade por diante de ti e proclamarei o nome do SENHOR diante de ti; e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e me compadecerei de quem eu me compadecer.” (Êx 33:19)
Se Deus tem misericórdia de quem lhe apraz, segue-se que Ele não se compadece de quem não lhe apraz, ou seja, Deus se endurece. Deus é fiel, ao ter misericórdia dos que O amam e guardam o seu mandamento (Dt 7:9-10) e Deus é zeloso, inflexível, se endurece, com aqueles que O odeiam (Dt 5:9-10). Essa ideia vem sendo desenvolvida nos versos 15 e 16, do capítulo 9 de Romanos e conclui-se no verso 18:
“Pois diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia. Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece (…) Logo, pois, compadece-se de quem quer e endurece quem quer.” (Rm 9:15-16 e 18).
Em relação a Esaú e Jacó, Deus amou Jacó e odiou a Esaú. O termo ‘amor’ foi empregado no sentido de compadecer e o termo ‘ódio’, no sentido de endurecer, ou seja, com o perverso Deus se mostra indomável, duro, inflexível, o que se deu com Faraó.
“Eu vos tenho amado, diz o SENHOR. Mas vós dizeis: Em que nos tem amado? Não era Esaú irmão de Jacó? disse o SENHOR; todavia amei a Jacó e odiei a Esaú; fiz dos seus montes uma desolação e dei a sua herança aos chacais do deserto.” (Ml 1:2-3)
Devemos considerar que Faraó se mostrou perverso ante a palavra de Deus, ou seja, endureceu[10] o seu coração. A Bíblia demonstra que “o coração de Faraó se endureceu.” (Êx.7:13-14 e Êx 8:19) e que Faraó “continuou de coração endurecido” (Êx 8:15). Quando Faraó se propunha a deixar o povo ir, Deus desviava a praga, mas, quando ele se endurecia, novamente, Deus enviava nova praga.
“E Faraó chamou a Moisés e a Arão e disse: Rogai ao SENHOR, que tire as rãs de mim e do meu povo; depois, deixarei ir o povo, para que sacrifiquem ao SENHOR (…) Vendo, porém, Faraó que havia alívio, continuou de coração endurecido e não os ouviu, como o Senhor tinha dito.” (Êx 8:8 e 15)
O termo hebraico קשה (qashah), traduzido por ‘endurecer’, em Êxodo 7, verso 3, não diz de uma ação sobrenatural de Deus, influenciando as decisões de Faraó, antes, a palavra que foi dita a Faraó: ‘Deixa ir o meu povo, para que me celebre uma festa no deserto” (Êx 5:1), fez de Faraó um obstinado.
Ao dar ordem a Faraó, por intermédio de um mensageiro: ‘Deixa ir o meu povo…’, Deus endureceu o coração de Faraó e como Faraó não aquiesceu, Deus se mostrou zeloso, indomável, impossível.
Antes da palavra de Deus, o coração de Faraó não tinha disposição alguma, em relação a deixar ou, não, o povo de Israel ir a qualquer lugar que seja, mas quando ouviu que era necessário deixar ir o povo que pertencia a Deus, Faraó se endureceu pela proposta.
Onde está o espírito de Deus, ai há liberdade! (2 Co 3:17) Para o propósito que Faraó foi levantado, não era necessário Deus endurecer o coração de Faraó, pois o propósito de Deus seria levado a efeito se Faraó obedecesse, ou não. Desse modo, se Deus ‘endureceu’ o coração de Faraó para ser glorificado, de certo seria melhor ‘amolecer’ o coração de Faraó, pois assim também seria glorificado.
Mas, Deus não faz nenhuma ou, nem outra coisa, antes, dá liberdade ao homem e, por isso, Deus é longânime e espera que Israel se converta, quando o véu será tirado (2 Co 3:16). Deus apresenta ao homem a sua palavra e Deus agirá conforme a resposta que o homem der a ela.
Muitos, por não compreenderem a eleição de faraó, para explicá-la, se focam na ideia de que faraó não é uma pessoa boa e nem temente a Deus; que a sociedade egípcia era comandada por faraós que se achavam deuses, que escravizaram os filhos de Israel, que foram responsáveis por inúmeras mortes de criancinhas, etc.
“A minha resposta é que, à parte da graça da eleição, Deus trata com os homens em consonância com a natureza deles. Visto que a natureza deles é maligna e pervertida, quando Deus os impulsiona para que entrem em ação, seus atos são malignos e pervertidos.” Martinho Lutero, Nascido Escravo, pág. 73.
“Deus não cria uma nova maldade no coração dos homens. Antes, Ele se utiliza do mal que já se encontra no coração deles, visando aos seus próprios, bons e sábios desígnios.” Martinho Lutero, Nascido Escravo, pág. 74.
Deus não trata o homem em consonância com a índole ou moral, antes trata com os homens, através do estabelecido na sua palavra. A palavra de Deus é a medida e a ferramenta de Deus, de modo que Ele zela da sua palavra para cumpri-la. (Jr 1:12) É um equívoco achar que Deus utiliza o mal que há no coração do homem, para levar a efeito o Seu propósito.
Ora, a eleição de Deus é firme e não tem em vista se a pessoa fez bem ou mal, mas tem em vista a glória de Deus. O mesmo critério utilizado na eleição de Esaú e Jacó, quando Raquel concebeu de Isaque, sendo que as criancinhas nem tinham nascido e nem feito bem ou, mal, é o mesmo critério estabelecido sobre faraó, portanto, não tem em vista se ele era bom ou mal, ou se fez algum bem ou muitos males.
Pelo fato de desconhecerem que Deus tem misericórdia daqueles que O obedecem, ao lerem em Romanos 9, verso 18, que Deus “tem misericórdia de quem ele quer e endurece a quem ele quer”, muitos argumentam que faraó não tinha desculpa e era responsável por seu próprio pecado, quando Deus o ‘endureceu’.
Pelo fato de não compreenderem que Deus se apraz em exercer misericórdia aos que O amam, e que Deus disse que ‘tem misericórdia de quem quer’, para evidenciarem a Moisés o que já havia sido apregoado, anteriormente (Êx 33:19), compare-se com (Êx 20:6), em que não conseguem aceitar o que foi dito, acerca de faraó.
“Por que Deus não altera a vontade perversa de pessoas como Faraó? Essa questão toca na vontade secreta de Deus, cujos caminhos são inescrutáveis. (Rm 11:33) Se alguém, que é orientado por sua razão humana, fica ofendido por causa disso, que assim seja. As queixas nada mudarão e os eleitos de Deus permanecerão inabaláveis. Poderíamos, também, perguntar por que Deus deixou que Adão caísse! Não devemos tentar estabelecer regras para Deus. Aquilo que Deus faz, não é correto porque o aprovamos, mas porque Deus assim o desejou”. Idem.
Por que Deus deixou que Adão caísse? Resposta: – Porque Deus o orientou e lhe deu plena liberdade! Foi uma escolha deliberada de Adão, por ser livre. E, por que Deus não altera a vontade (perversa ou não) das pessoas? Por que os dons de Deus são irrevogáveis! Como Deus lida com a liberdade do homem não é segredo, ou, algo que as suas criaturas não possam compreender.
Com relação a Deus, o homem sempre é livre, sendo servo de Deus ou, não! Isso não significa que o homem não esteja livre de um senhor, pois, os que não estão sujeitos a Deus, estão sujeitos ao pecado.
A abordagem do capítulo 9 de Romanos, não tem em vista a salvação ou, a condenação do homem, mas, sim, a demonstração de que palavra de Deus não havia falhado (Rm 9:6). Agostinho, Lutero, Calvino, e muitos outros, com base em Romanos 9, debatem, acerca da salvação e da condenação, porém, o apóstolo Paulo estava demonstrando que, apesar de haverem muitas pessoas pertencentes a Israel, de fato elas não eram israelitas.
O fato de serem descendentes de Abraão não significava que eram filhos de Abraão (Rm 9:7), pois, em Isaque a descendência de Abraão AINDA seria chamada. Mas, se os filhos de Isaque fossem descendência de Abraão, não seria necessária a palavra de Deus a Rebeca: ‘o maior servirá o menor’, o que significa que Jacó e Esaú ainda não eram a descendência de Abraão, antes, que em Jacó seria chamada a descendência de Abraão (Rm9:12).
“Porém, Deus disse a Abraão: Não te pareça mal aos teus olhos acerca do moço e acerca da tua serva; em tudo o que Sara te diz, ouve a sua voz; porque, em Isaque será chamada a tua descendência.” (Gn21:12)
Há uma grande diferença, entre interpretar que Isaque era a descendência de Abraão e, assim, todos os seus filhos seriam bem-aventurados, entre interpretar que, em Isaque a descendência de Abraão seria chamada.
“Nem por serem descendência de Abraão, são todos filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência.” (Rm 9:7)
O apóstolo Paulo não estava dizendo que Deus, unilateralmente, salva quem quer e condena quem quer, por ser soberano, antes, que a palavra de Deus, com relação à descendência prometida a Abraão, não havia falhado. Deus prometeu um descendente a Abraão, que viria por Isaque, o Cristo, e cumpriu a sua palavra a Abraão, quando disse: ‘Por esse tempo virei e Sara terá um filho’. (Rm 9:9)
Mas, de Isaque nasceram dois filhos: Esaú e Jacó e, de ambos, não seria chamada a descendência de Abraão, pelo que foi dito a Rebeca: ‘o maior servirá o menor’, pois havia dois povos no ventre de Rebeca. Neste caso, Deus elegeu a casa de Jacó e rejeitou a casa de Esaú, para chamar a descendência prometida a Abraão.
E qual o critério que Deus utilizou para escolher entre Esaú e Jacó? O direito de primogenitura, estabelecido conforme a sua soberania. Conclui-se que não há injustiça da parte de Deus (Rm 9:14) e que a palavra de Deus não havia falhado (Rm 9:6).
Há injustiça da parte de Deus, por ter amado a Jacó e aborrecido Esaú? De modo nenhum! Primeiro, Deus deu o que era de direito a Jacó, e, segundo, Deus manteve a sua palavra dada a Abraão, acerca do descendente!
Em momento algum, no capítulo 9 da carta aos Romanos, o apóstolo Paulo tratou de salvação ou, de perdição, antes destacou: a) como veio ao mundo o Salvador e; b) como Deus cumpriu a palavra anunciada a Abraão, acerca da descendência, que seria chamada em Isaque e que passou por Jacó.
A palavra de Deus não falhou para com Israel, visto que, no tempo presente, há um remanescente, mas segundo a eleição da graça:
“Assim, pois, também, agora, neste tempo, ficou um remanescente, segundo a eleição da graça” (Rm 11:5)
“Também, Isaías clama acerca de Israel: Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo. Porque ele completará a obra e abreviá-la-á em justiça; porque o Senhor fará breve a obra sobre a terra.” (Rm 9:27 -28).
Deus salva o homem por intermédio da mensagem do evangelho (loucura da pregação, fé), e não através da eleição, predestinação ou presciência. Os que creem (crentes) na mensagem do evangelho (loucura da pregação) são salvos, pois o evangelho é o poder de Deus para salvação dos que creem (Rm 1:16).