domingo, 31 de março de 2024

A DOUTRINA DO PECADO

 

Por: Jânio Santos de Oliveira

 Pastor e professor da Igreja evangélica Assembléia de Deus em Santa Cruz da Serra

 Pastor Presidente: Eliseu Cadena

 Contatos 0+operadora (Zap)21 987704458 (Tim)

 Email ojaniosantosdeoliveira@gmai.com




Meus amados e queridos irmãos em Cristo Jesus, a Paz do Senhor! 

 

Í N D I C E

INTRODUÇÃO...................................................................................

I. A ORIGEM DO PECADO............................................................

1. Deus Não É o Autor do Pecado........................................

2. O Pecado Teve Origem no Mundo Angélico.......................

3. A Origem do Pecado na Raça Humana ...................................

II. O CARÁTER DO PRIMEIRO PECADO DO HOMEM........................

1. Seu Caráter Formal ............................................................

2. Seu Caráter Essencial e Material ..................................

3. Seu Caráter Universal ..................................................

III. A IDEIA BÍBLICA DO PECADO ..........................................

1. O Pecado É uma Classe Especial de Mal.............................

2. O Pecado Tem um Caráter Absoluto ..................................

3. O Pecado Tem Sempre Relação com Deus..........................

4. O Pecado Inclui Tanto a Culpa como a Corrupção da Pessoa ....

5. O Pecado Tem Lugar Primeiramente no Coração...............

IV. O PECADO ORIGINAL E O PECADO PRATICADO................................................................. 7

1. O Pecado Original ...............................................................

2. O Pecado Praticado.........................................................

3. A Classificação dos Pecados Praticados.............................

V. O PECADO E O CRENTE....................................................

1. É Possível o Crente Pecar? ...............................................

2. Qual a Causa do Pecado do Crente?.................................

3. Quais as Consequências do Pecado na Vida do Crente? ......

4. Como o Crente Deve Tratar com o Pecado?.....................

 

INTRODUÇÃO

Os mais diversos conceitos acerca da origem do pecado surgiram entre os homens ao longo da história. Irineu, bispo de Lião, na Gália (130-208 d.C.), foi talvez o primeiro dos pais

da Igreja antiga a assegurar que o pecado no mundo se originou da transgressão voluntária de Adão no Éden.

Muitas outras opiniões quanto ao assunto surgiram desde então. Por exemplo, os gnósticos ensinavam que o contato da alma com a matéria tornava aquela imediatamente pecadora. Esta teoria despojou o pecado do seu caráter voluntário e ético, como é apresentado nas Escrituras.

Evidentemente, Deus na sua onisciência já via a entrada do pecado no mundo bem antes da criação do homem; porém, devemos ter o cuidado, ao fazermos esta interpretação, de não lançarmos sobre Deus a responsabilidade como autor do pecado. Deus é santo (Is. 6.3) e não há nele nenhuma injustiça (Dt. 32.4; SI. 92.15). O pecado não teve sua origem na

terra, mas no mundo angélico; daí passou a Adão, até que tornou-se um flagelo universal.

Este é o assunto que estudaremos ao longo desta lição.

I – A ORIGEM DO PECADO

Na Bíblia, o mal moral que assola o mundo, normalmente chamado pelos homens de fraqueza, equívoco, deslize, se define claramente como pecado, fracasso, erro, iniquidade, transgressão, contravenção e injustiça. À luz do ensino geral das Escrituras, o homem é apresentado como um transgressor por natureza. Mas, como adquiriu o homem essa natureza pecaminosa? O que a Bíblia diz acerca disso? Para responder a estas perguntas devemos considerar o seguinte:

1. Deus Não é o Autor do Pecado

Evidentemente Deus na sua onisciência já vira a entrada do pecado no mundo, bem antes da criação do homem. Porém, deve-se ter cuidado, ao fazer essa interpretação, para não lançar sobre Ele a causa ou a autoria do pecado. Esta ideia está excluída da Bíblia. Jó 34.10 diz: "Longe de Deus o praticar ele a perversidade e do Todo-poderoso o cometer injustiça".

Deus é santo (Is. 6.3) e não há nele nenhuma injustiça (Dt. 32.4; SI. 92.15). Tiago diz:

"Ninguém ao ser tentado diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e ele mesmo a ninguém tenta" (Tg. 1.12). Deus odeia o pecado, e a prova disto é que Ele

enviou Jesus Cristo como provisão, para destruir o pecado e salvar os homens. Assim sendo, têm de ser rejeitadas todas aquelas ideias determinadas, segundo as quais Deus é autor e

responsável pelo pecado. Tais ideias são contrárias não só às Escrituras, mas também à voz da consciência, que dá testemunho da responsabilidade do homem.

2. O Pecado Teve Origem no Mundo Angélico Se queremos conhecer a origem do pecado, devemos ir além da queda do homem descrita no capítulo 3 de Gênesis, e por a nossa atenção em algo que aconteceu no mundo dos anjos.

Deus criou os anjos como seres dotados de relativa perfeição, porém Lúcifer e legiões deles se rebelaram contra Deus, pelo que caíram em terrível condenação. O tempo exato dessa rebelião e queda não é dado a conhecer na Bíblia, porém João 8.44 fala do Diabo como aquele que é homicida desde o princípio; e 1João 3.8 diz que o Diabo peca desde o princípio. Bem pouco diz a respeito do pecado que ocasionou a queda dos anjos, porém quando Paulo adverte a Timóteo para que nenhum neófito seja designado como bispo, "para não suceder que se ensoberbeça e caia na condenação do diabo" (1Tm. 3.6), concluímos que o pecado do Diabo foi a soberba, isto é, o desejo de ser igual a Deus.

3. A Origem do Pecado na Raça Humana

A Bíblia ensina que a origem do pecado na história da raça humana foi a transgressão voluntária de Adão no Éden. O homem deu ouvidos à insinuação do tentador, de que caso se

colocasse em oposição a Deus se tornaria igual a Deus. Tomando do fruto que Deus proibira, Adão caiu, abrindo a porta de acesso ao pecado no mundo. Ele não apenas pecou, como também tornou-se servo do pecado.

Veja como a Bíblia descreve este triste incidente da história humana:

"Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens porque todos pecaram. Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida. Porque, como pela desobediência de um só homem muitos se tornaram pecadores, assim também por meio da obediência de um só muitos se tornaram justos" (Rm. 5.12,18-19).

II – O CARÁTER DO PRIMEIRO PECADO DO HOMEM

De acordo com o relato sagrado, o primeiro pecado do homem constituiu-se em haver Adão comido da árvore do conhecimento do bem e do mal, em desacato à ordem do Senhor: "da árvore do conhecimento bem e do mal não comerás; porque no dia em que dela comeres certamente morrerás" (Gn. 2.17).

Não sabemos que classe de árvore era a do conhecimento do bem e do mal. Poderia ter sido uma macieira, um pereira, ou outra qualquer árvore frutífera. Certamente não haveria nada de pecaminoso em se comer do fruto dessa árvore, se Deus a respeito dela não houvesse dito: "da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás..."

1. Seu Caráter Formal Ignoramos a razão porque essa árvore é chamada "árvore do conhecimento do bem e

do mal", porém, segundo uma ideia muito comum, ela se chama assim pelo fato de que o homem, comendo dela, adquiriria conhecimento prático do bem e do mal. Berkhof diz na

sua Teologia Sistemática que esta ideia dificilmente pode se harmonizar com o registro bíblico, quando este afirma que o homem ao comer dela se tornaria igual a DEUS, quanto ao

conhecimento do bem mal, posto que Deus não comete o mal, e portanto não tem conhecimento prático dele. Quanto a isso, o mesmo Berkhof é da opinião de que parece muito mais aceitável admitir que essa árvore se chamava assim pelo fato de que estava destinada a revelar:

1. Se o estado futuro do homem seria bom ou mau;

2. Se o homem permitiria que Deus determinasse em seu lugar o que lhe era bom ou mal, ou se o homem empreenderia determiná-los por si mesmo.

Qualquer que seja o significado que se dê à árvore do conhecimento do bem e do mal, deve-se ter sempre em mente que a finalidade da sua designação por Deus foi de simplesmente provar o homem, criado à sua imagem e semelhança. Adão teria de demonstrar interesse em se submeter à sua própria vontade ou à vontade de Deus, com obediência implícita e absoluta.

2. Seu Caráter Essencial e Material

A essência do pecado de Adão consiste em que ele se colocou em oposição a Deus, recusando submeter-se à sua vontade, e impedindo que Deus determinasse o curso da sua vida. Adão tomou as rédeas da sua vida das mãos de Deus, determinando o seu futuro por si mesmo. O homem, que não tinha nenhum direito sobre Deus, separou-se dele como se nada lhe devesse. Com essa ação, o homem estava como que levantando os punhos para Deus e dizendo: "Eu não preciso mais de ti".

A ideia de que a ordem de Deus ainda estava na mente do homem, no momento do seu pecado, é comprovada na resposta de Eva à pergunta de Satanás "nem tocareis nele"

(Gn. 3.3). Possivelmente Eva quis enfatizar que o mandamento de Deus não havia sido razoável, isto é, era muito mais pesado do que se podia imaginar; foi assim que no desejo de ser igual a Deus o homem pecou e foi reduzido à categoria de servo do pecado.

3. Seu Caráter Universal

Ainda que muitos tenham opiniões diferentes quanto ao caráter do pecado, e o modo como o mesmo se originou, bem poucos se inclinam a negar o fato de que o pecado é um tormento no coração do homem, em todos os quadrantes da terra. Seja em grandes cidades, como o Rio de Janeiro e São Paulo, ou nas mais esquecidas aldeias do seio da África, o pecado é um flagelo diário.

A própria história das religiões pagãs testifica da universalidade do pecado. A pergunta de Jó 25.4: "Como, pois, seria justo o homem perante Deus, e como seria puro aquele que nasce de mulher?" é feita tanto por aqueles que conhecem a revelação de Deus quanto por aqueles que a ignoram.

Quase todas as religiões dão testemunho de um conhecimento universal do pecado, e da necessidade de reconciliação com um Ser Superior. Há um sentimento geral de que os deuses estão ofendidos, de que algo deve ser feito para apaziguá-los. A voz da consciência acusa o homem diante do seu fracasso em alcançar o ideal da vida perfeita, dizendo que ele está condenado aos olhos de alguém que possui um poder superior.

Os altares banhados de sangue e as frequentes confissões de agravo, feitas por pessoas que buscam livrar-se do mal, apontam em conjunto para o conhecimento do pecado e da gravidade do mesmo. Onde quer que os missionários cristãos se encontrem, apodera-se deles a certeza de que o pecado é um flagelo universal para humanidade.

Os mais antigos filósofos gregos, na sua luta contra o problema do mal, foram levados a admitir a universalidade do pecado, ainda que incapazes de explicar esse fenômeno.

A universalidade do pecado está registrada, entre muitas outras, nas seguintes passagens da Bíblia: Gn 6.5; 1Rs. 8.46; SI. 53.3; 143.2; Pv. 20.9; Ec. 7.20; Is. 53.6; 64.6; Rm 3.1-12,19,20,23; 3.22; Tg. 3.1,8,10.

 

III – A IDEIA BÍBLICA DO PECADO

Dada a importância do assunto de que trata este texto, e em decorrência dos diferentes conceitos de pecado, chamamos a sua atenção para as seguintes particularidades do ensino bíblico sobre o pecado.

1. O Pecado é uma Classe Específica de Mal

Comparativamente, o que ouvimos e lemos hoje sobre o mal é mais do que o que ouvimos e lemos a respeito do pecado, isto talvez devido à opinião comum de que mal e pecado são a mesma coisa. Porém, é bom lembrar que nem todo mal é pecado. O pecado não deve ser confundido com o mal físico que produz prejuízos e calamidades. O pecado é a causa do mal, enquanto que o mal é o efeito do pecado.

Os termos bíblicos para designar o pecado são variados, mas em geral ele é apresentado como "fracasso", "erro", "iniquidade", "transgressão", "contravenção",

"carência da lei" e "injustiça". Porém, a definição do pecado não pode ser derivada simplesmente dos termos bíblicos para denotá-los. A característica principal do pecado, em todos os seus aspectos, é que ele está orientado contra Deus, conforme mostram o Salmo 51.4 e Romanos 8.7.

2. O Pecado Tem um Caráter Absoluto

O contraste entre o bem e o mal é absoluto, e não há neutralidade alguma entre ambos. Tanto que a transição entre um e outro não é de caráter quantitativo, mas qualitativo. Um ser moral, que é bom, não se torna mau só por diminuir a sua bondade, mas por uma mudança radical que o leva a envolver-se com o pecado. Jesus disse: "Quem não é por mim, é contra mim, e quem comigo não ajunta, espalha" (Mt. 12.30). O homem tem que estar do lado do bem e da justiça, ou do mal. Em assuntos espirituais, a Escritura não conhece uma posição neutra.

3. O Pecado Tem Sempre Relação com Deus

É impossível se ter um conceito correto do pecado sem vê-lo em relação com a pessoa de Deus e sua vontade, pois é compreendendo-o assim que ele é interpretado como "falta de conformidade à lei de Deus". Esta é a definição formal mais correta do pecado.

As passagens seguintes mostram claramente que a Escritura vê o pecado em relação à Deus e à sua lei, contrariando-os.

“Ora, conhecendo eles a sentença de Deus, de que são passíveis de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que assim procedem" (Rm. 1.32).

"...se, todavia, fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, sendo arguidos pela lei como transgressores" (Tg. 2.9).

4. O Pecado Inclui Tanto a Culpa Como a Corrupção da Pessoa

A culpa é um estado em que se sente o merecimento do castigo pela violação de uma lei moral. Ela expressa também a relação que o pecado tem com a justiça e com o castigo da lei. Porém, por ser palavra de significado duplo, a culpa tanto denota a qualidade própria do pecado, como denota a culpabilidade que nos faz dignos do juízo e do castigo divinos. Dabney fala deste último aspecto da culpa como "culpa potencial". A culpa pode ser

removida por meio de um substituto, mediante a satisfação das exigências da lei divina (Mt. 6.12; Rm. 3.19; 5.18; Ef. 2.3).

Corrupção é a contaminação inerente a cada pecador; é uma idade na vida de todo indivíduo. Todo aquele que é nascido de Adão tem em si a natureza manchada pelo pecado,

(Jó 14.4; Jr. 17.9; Mt. 7.15-20; Rm. 8.5-8; Ef. 4.17-19).

4. O Pecado Tem Lugar Primeiramente no Coração

O pecado não reside em nenhuma faculdade da alma, mas sim no coração, o âmago da alma, de onde flui a vida. O coração de que a Bíblia fala é o centro das influências que põe em operação o intelecto, a vontade e os afetos. Em seu estado pecaminoso, o coração torna o homem objeto do desagrado de Deus.

Sobre o coração como invólucro do pecado, escreveu o profeta Jeremias: "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto, quem o conhecerá?"

(Jr. 17.9). Você deve ler também Provérbios 4.23; Mateus 15.19-20; Lucas 6.45 e Hebreus 3.12.

IV – O PECADO ORIGINAL E O PECADO PRATICADO

1. O Pecado Original

A condição pecaminosa em que nasce o ser humano é definida logicamente como "pecado original". Segundo Berkhof, ele é chamado assim:

 1) porque se deriva de Adão, o tronco original da humana;

2) porque está presente na vida de cada indivíduo desde o momento do seu nascimento, pelo que não pode ser considerado como resultado de simples imitação; e

3) porque é a raiz interna de todos os pecados atuais que maculam a vida do homem.

Devemos, porém, evitar o erro de pensar que o termo "pecado original" implica que este pecado pertence à constituição original da natureza humana, posto que isto implicaria que Deus criou o homem como pecador.

Dentre os vários elementos do pecado original, distinguimos para efeito de estudo os dois que se seguem:

1. A culpa original. A palavra "culpa", com relação ao pecado original, expressa a relação que a justiça tem com o pecado e, como expressavam os teólogos mais antigos, a relação que o pecado tem com a pena da lei. É assim que a culpa do pecado de Adão, como cabeça da raça humana, é imputada a todos os seus descendentes. Com este ensino concordam as passagens de Romanos 19; Efésios 2.3 e 1 Coríntios 15.22.

2. A corrupção original. A corrupção original do homem inclui a ausência da justiça original e a presença de um mal real. É a tendência da natureza caída, herdada de Adão, que condiciona o homem para pecar.

2. O Pecado Praticado

O pecado se originou de um ato da livre vontade de Adão, como representante da raça humana. Uma transgressão da lei de Deus e uma corrupção da natureza humana, que deixou o homem exposto ao juízo e castigo divinos. É esta natureza corrompida a fonte de onde fluem todos os pecados praticados.

"Pecados praticados" são os atos externos que se executam por meio do corpo. São também todos os maus pensamentos conscientes. São os pecados individuais de fato.

O pecado original é um só, enquanto que o pecado praticado desdobra-se em diferentes classes, incluindo atos e atitudes.

O que o apóstolo João escreveu, no capítulo primeiro da sua primeira epístola universal, poderá nos ajudar a compreender melhor a diferença entre "pecado original" e "pecados praticados".

"Se dissermos que não temos PECADO, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós. Se confessarmos os nossos PECADOS, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça" (1Jo. 1.8-9).

A palavra "pecado", no singular, citada no versículo 8, é uma referência precisa e direta ao pecado original, ou seja, a natureza decaída do homem, enquanto que a palavra "pecados", no plural, citada no versículo 9, refere-se ao pecado praticado no nosso dia-a-dia.

3. A Classificação dos Pecados Praticados

É impossível classificar todos os pecados praticados, pois variam de classe e de grau, e podem diferenciar-se em mais de um ponto. Os católicos romanos fazem uma bem conhecida distinção entre pecados veniais e pecados mortais, porém têm dificuldade em identificar qual pecado é venial ou mortal.

A mais completa lista das diferentes classes de pecados, mencionados na Bíblia, é a apresentada pelo apóstolo Paulo na sua Epístola aos Gálatas:

"Ora, as obras da carne são conhecidas, e são prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissenções, facções, invejas, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já outrora vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam" (Gl. 5.19-21).

O Novo Testamento determina a gravidade do pecado, de acordo com o grau de conhecimento que se tenha a respeito dele. Os gentios, que estão no seu pecado, são culpados aos olhos de Deus; porém, aqueles que gozam do favor do Evangelho e têm a

revelação de Deus são muito mais culpados quando caem. Com isto concordam passagens bíblicas tais como: Mt. 10.15; Lc. 12.47-48; Jo. 19.11; At. 17.30; Rm. 1.32; 2.12; 2Tm. 1.13-16.

O pecado pode ser tanto por comissão como por omissão. Isto quer dizer que aquele que não faz o bem, que deveria fazer, é tão pecador diante de Deus quanto aquele que derrama o sangue de seu próximo.

V – O PECADO E O CRENTE

O significado e a gravidade do pecado são melhor  compreendidos pelo crente do que por qualquer outra pessoa. Ao longo de toda a narrativa bíblica, o crente é advertido contra

o "pecado que de tão de perto nos rodeia" (Hb. 12.1), e a caminhar para o alvo que é a semelhança da estatura e perfeição do Senhor, que nos comprou com o seu precioso sangue. Por isso, ao ouvido de cada crente, hoje, deve continuar soando a advertência solene do Mestre: "vai e não peques mais" (Jo. 8.11).

1. É Possível o Crente Pecar?

Para muitos crentes, a descoberta de que após aceitar Jesus como Salvador, ainda estavam sujeitos ao pecado, foi tão extraordinária quanto o próprio fato de agora saberem que eram novas criaturas.

Que é possível o crente pecar, é assunto que se salienta em toda a Escritura. Só no Novo Testamento há capítulos inteiros, como por exemplo Romanos capítulos 7 e 8, que mostram o conflito interior do crente entre a natureza divina que nele habita e a natureza humana, mostrando a possibilidade do crente vir a pecar se deixar de vigiar. Vem ao caso citarmos outra vez 1João 1.8-9.

"Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo, para nos perdoar os pecados e

nos purificar de toda a injustiça".

Mostramos no texto anterior que "pecado", no singular, citado no versículo 8, é uma referência direta à natureza caída do homem, donde provêm todos os "pecados", no plural, citado no versículo 9. É evidente, portanto, que o crente possui duas naturezas: a natureza caída, sujeita ao pecado, e a natureza divina. Esta última é implantada no crente através da sua ligação com Cristo, a Videira Verdadeira, sobre a qual fala João 15. Enquanto a primeira natureza estiver subjugada, o crente será levado de vitória em vitória.

2. Qual a Causa do Pecado do Crente?

São muitas as causas porque o crente é levado à prática do pecado, porém, vamos citar apenas as três principais, e também as mais conhecidas, que são:

a. A natureza pecaminosa (Rm. 8.21-25).

b. O sistema mundial que está sob o domínio de Satanás (1Jo. 2.15-17).

c. Falta de oração e cuidadoso estudo das Escrituras (Ef. 6.10-15).

O crente que relaxa o hábito da oração, e da leitura e estudo da Bíblia, está incorrendo em sérios riscos espirituais, podendo se tornar presa fácil do adversário.

3. Quais as Consequências do Pecado na Vida do Crente?

Dentre as muitas consequências do pecado na vida do crente, destacamos as seguintes:

a. A perda da comunhão com Deus (SI. 51.11; 1Jo. 1.5-6).

b. Os inimigos encontram oportunidade de blasfemar de Deus (2Sm. 12.14).

c. Perda do galardão (1Co. 3.8; 3.13-15).

d. Possível morte prematura (At. 5.1-11; 1Co. 11.30).

e. Maus exemplos (1Co. 8.9-10).

f. Destruição da fé e consequente morte espiritual (Rm. 6.16; 1Jo. 5.16-17).

4. Como Crente Deve Tratar com o Pecado?

Quanto ao trato que o crente deve dar ao pecado, a Bíblia recomenda que o crente deve:

a. Reconhecê-lo, SI. 51.3.

b. Evitá-lo, 1Tm. 5.22.

c. Detestá-lo, Jd. 23.

d. Resisti-lo com confiança em Deus, Tg. 4.7-8.

e. Confessá-lo, 1Jo. 1.9.

f. Abandoná-lo, Pv. 28.13.

O apóstolo João escreveu: "Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não

pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos um Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo" (1Jo. 2.1).

 

Em termos de pecado, há uma grande diferença entre o ímpio e o homem perdoado, o crente. Com o crente pode acontecer um desastre espiritual, enquanto que o ímpio é um desastre em si mesmo. Ainda que haja diante do crente a possibilidade de pecar, ele sabe que não vale a pena pecar. Ele sabe que o salário do pecado é a morte, por isso mesmo procura a todo custo evitá-lo. O pecado que antes lhe era uma regra, hoje lhe é uma exceção; foi por isso que o apóstolo João escreveu "Se, todavia, alguém pecar..."

Bibliografia:

Doutrinas Bíblicas – Uma introdução à Teologia. Raimundo F. de Oliveira, EETAD, 2ª edição,

1991.